Vimos nas últimas aulas que, muitas
vezes, o silêncio pode ser percebido de um jeito positivo, como uma forma de
dar sentido ao mundo que nos cerca e às relações. Dessa maneira, o silêncio nos
ajuda a entender melhor o mundo e as pessoas e a lidar melhor com eles.
O silêncio,
contudo, também pode ter significados negativos. Às vezes, ele é resultado da
falta do que dizer, que pode ser fruto da ignorância ou do nervosismo. No senso
comum existe uma expressão muitas vezes utilizada, que é “Quem cala consente”. Ou
seja, quando não dizemos nada, quando não contestamos a fala do outro,
permitimos a ele que faça o que quiser.
O silêncio
pode ser egoísta ou confortável: não dizemos nada para evitar o esforço de
elaborar o que dizer ou para afastar as possíveis consequências do que está
sendo dito.
O silêncio
também pode ser violento: podemos ser obrigados a nos calar. A censura é um
silêncio imposto. Na Odisseia, poema
do século IX a.C. descrito pelo grego Homero, uma das histórias mais antigas de
que se tem notícia, há um episódio de censura ou imposição do silêncio. O poema
conta a história do guerreiro grego Ulisses (ou Odisseu) em sua viagem de volta
à Grécia após a guerra de Tróia para encontrar sua amada Penélope. Mas é também
a história do jovem Telêmaco, filho de Penélope e Ulisses, que sai em viagem em
busca de seu pai.
No início
do poema, Telêmaco recebe amigo em uma festa no palácio onde vive com sua mãe,
e um bardo – como se chamavam os criadores de versos que animavam as festas –
começa a cantar as dificuldades que os guerreiros gregos teem em voltar para
casa. Penélope, perturbada pela canção, sai de seus aposentos e pede ao bardo
que cante uma música menos triste. O jovem Telêmaco intervém, dizendo: “- Mãe!
Volte para seus aposentos, continue a costurar, volte para o tear e roca. Quem
dá as ordens são os homens e eu sou o homem nessa casa”. Ela obedeceu.
Nessa história,
escrita por volta de 3 mil anos atrás, percebe-se como a voz da mulher não é
ouvida e seu direito à fala é negado por uma voz considerada socialmente mais
poderosa.
Um caso
recente e violento de tentativa de silenciamento é o da ativista Malala
Yousafzai (1997-). Malala nasceu no Paquistão, onde as meninas estavam sendo
proibidas de frequentar a escola. Inconformada, passou a escrever em um blog denuncias desse estado de coisas
e começou a sofrer ameaças.
Em 2012,
Malala foi baleada na cabeça por apoiadores do regime no governo. Ela
sobreviveu ao atentado e se tornou uma conhecida militante do direito à
educação em todo o mundo. Em 2014, ela ganhou o prêmio Nobel da Paz.
Dorigo, Gianpaolo
Ensino Fundamental, anos finais.
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