Jurandir Marques*
Certo dia, quando passava por uma
avenida de Cuiabá, contemplei um fato curioso que me chamou a atenção. Vários
carros cruzavam a avenida e, em determinado momento, um passarinho cruzou o
asfalto e foi repentinamente colhido por um automóvel, caindo zonzo no meio da
avenida. Logo me veio a mente a seguinte conclusão: “Estava voando baixo”.
Ao passarinho foram dadas asas para
voar. Para voar alto, acima dos riscos e dos perigos. Mas ele voava baixo,
entre os mesmos perigos e riscos que podia evitar e foi colhido pela
fatalidade.
Logo associei aquele fato ao cristão.
Muitos deles estão caídos nas estradas da vida, simplesmente porque estavam voando
baixo demais e foram colhidos pelo inimigo das nossas almas.
Adão e Eva voavam baixo quando foram
feridos pela serpente e perderam o paraíso e a imortalidade.
Davi voava baixo quando foi colhido
pelo desejo em possuir Bate Seba. Seu exército estava no campo de batalha.
Sansão voava baixo quando se deixou
seduzir pelos encantos de Dalila e perdeu o compromisso com Deus.
O filho pródigo voava baixo quando
abandonou o pai. Voou tão baixo que acabou em uma pocilga.
A esta lista poderiam ser
apresentados outros exemplos. Não apenas do passado, mas também do presente.
Exemplos meus e exemplos seus de quantas vezes fomos feridos, até mesmo de
morte, porque estávamos voando baixo demais.
Aquele passarinho tinha o recurso das
asas. Nós, os cristãos, temos o recurso da presença do Espírito Santo. O
passarinho negligenciou a força das suas asas e por isso foi colhido pelo veículo.
Quando desprezamos o auxílio do Espírito Santo, somo colhidos pelos riscos e
perigos impostos por Satanás.
Voar alto é aprender obedecer a Deus.
Em 1 Samuel 15.22 está escrito: “Samuel, porém, respondeu: ‘Acaso tem o Senhor
tanto prazer em holocausto e em sacrifícios quanto em que se obedeça à sua
palavra? A obediência é melhor do que a gordura de carneiros”.
As crianças quando vão à escola
aprendem o ABC, a pessoa quando se converte, aprende o OBDC.
Nenhum voo é mais baixo que o voo da desobediência
a Deus. Muitos cristãos hoje estão feridos de morte devido a desobediência.
Voar alto é agradar a Deus, viver
vida íntegra. Negócios lícitos. Não mentir. Dar bom testemunho aos de fora.
Agradar a Deus é realizar boas obras.
Aliás, Tiago diz que a verdadeira religião é feita de boas obras. “A religião
que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e
das viúvas em suas dificuldades e não deixar corromper pelo mundo (Tg 1.27).
Agradar a Deus é viver em Espírito e
não carne. “As pessoas que vivem de acordo com a sua natureza humana não podem
agradar a Deus” (Rm 8.8).
Agradar a Deus é não viver de
aparência. Muitos cristãos são verdadeiros transformistas. Na igreja são
excelentes filhos, esposos, pais. Quando são convidados para orar, falam tão
baixo que nem quem está ao lado ouve, mas na rua, no mercado, no ambiente de
trabalho, no lar, é preciso pedir para baixarem a voz.
Agradar a Deus é viver pela fé. As
Escrituras dizem: “sem fé é impossível agradar a Deus”. (Hb 11.6). Este texto
mostra que para agradar a Deus é preciso crer na sua existência e crer Ele
recompensa os que procuram conhecê-lo melhor.
Agradar a Deus é viver em comunhão
com ele e com seu povo. Paulo, escrevendo aos cristãos da cidade de Corinto
(2Co 6.14), faz a seguinte pergunta: “Como é que a luz e a escuridão podem
viver juntas?” Paulo encerra suas cartas convidando os cristãos a viverem uma
vida de comunhão: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, a comunhão de Deus Pai
e a presença do Espírito Santo seja com todos” (2Co 13.13).
Quando o cristão procura agradar a
Deus, obedecê-Lo e desenvolver um estilo de vida onde está presente a comunhão
com o Senhor e seu povo, ainda que seja colhido pelos perigos e riscos desta
vida, ele poderá se recuperar e voltar a voar alto.
O passarinho colhido pelo veículo
ficou atordoado no meio do asfalto por alguns momentos. Depois alçou voo e saiu
do perigo. Voou alto. Assim é o cristão que obedece, agrada e vive em comunhão
com Deus. Se for ferido, terá condições para se recuperar e retomar seu voo
alto.
*Professor de Filosofia, Tangará da
Serra-MT