sexta-feira, 30 de novembro de 2018

MEMORIAS IV - SENHOR THIERS CHEGOU!

Mamãe na ocasião trabalhava como doméstica na residência de dona Maria, mãe da vereadora Chica Nunes. Dona Maria era professora na Escola Bernardina Ricci, cuja diretora era dona Ruth Costa Marques, irmã do senhor Thiers.

Senhor havia chegado de São Paulo, após um relacionamento conjugal desfeito, deixando dois filhos, Paulo e Miguel. Este último já falecido.

Senhor Thiers montou aos fundos da casa da dona Ruth uma lavanderia, denominada: Luso Brasileira e precisava de alguém para ajudá-lo tocar o negócio. Foi aí que o nome de mamãe entrou em cena. Dona Maria consultou a mãe se desejaria trabalhar com o senhor Thiers. O salário era melhor.

Após um período de trabalho, começaram a namorar. Senhor Thiers foi convidado a visitar nossa casa. Lembro me de que um dia ele chegou, jovem simpático, alto e calvo. Sentou em um banquinho que tinha na sala e passou a conversar. Esse encontro se deu na casa alugada no bairro Ribeirão do Lipa.

Senhor Thiers demonstrou algo muito raro hoje dia, conviver com uma mulher que já tinha três filhos (Jurandir, Jussara e Jorge, também conhecido como pirulito).

Após esse encontro, mudamos de vida e de bairro. Mudamos para o bairro Goiabeira, era uma casa e adôbo, de apenas um quarto, sem porta.

 Nessa ocasião senhor Thiers ainda não assumiu totalmente, lembro que ele só parecia às noites. D Bairro Goiabeira mudamos para a Av. Isaac Póvoas, onde senhor Thiers instalou a lavanderia e uma pensão. Nessa pensão vieram morar os irmãos Corino Maia, José de Araújo e os irmãos Almeidas. Eram evangélicos,frequentavam a Primeira Igreja Batista de Cuiabá que tinha na liderança o jovem pastor Joanathan de Oliveira..

José de Araújo foi quem nos conduziu ao conhecimento do evangelho, embora sem o consentimento da nossa mãe. O conhecimento do Evangelho foi a melhor coisa que aconteceu em nossas vidas! O Evangelho é o poder de Deus!

 

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

MEMORIAS III - Mamãe resolveu mudar

Uma carroça foi contratada, era dia de mudança. Deixaríamos O Morro do Tambor e mudaríamos para a região conhecida como Ribeirão do Lipa. Era outro extremo da cidade de Cuiabá.

Os quase nada foram colocadas na carroça, lembro de uma cama velha, mesa, cadeira e armário. Tão pouco que daria apenas uma viagem.

Saímos em direção a nova morada. Ruas poeirentas, sem asfalto na cadência do burro. Cruzamos o centro de Cuiabá, pegamos a Getúlio Vargas, cruzamos com o 16BC (Batalhão de Caçadores) e nos dirigimos à nova casa.

Uma casa grande antiga. Precisava de uma reforma que nunca foi feita. A sala era grande e servia de quarto. A cozinha era pequena, fogão de lenha com chaminé. O quintal era amplo com um enorme buraco no final de onde era tirada argila para produção de adobo, uma espécie de tijolo não queimado, usado para construção pobre.

Lá vivemos longos anos. Mudanças significativas ocorreram em nossas vidas durante esse período. Conseguimos ampliar o circulo de amizades boas e más. Recordo de uma senhora viciada em álcool que após a ingestão de bebida, saia pela rua gritando seu nome: ".......... bebe pinga e anda nua!!!!!" Tinha ela vários filhos, lembro de uma menina e dois rapazes que seguiam o mesmo exemplo.

Mamãe continuou a realizar serviços domésticos, ficávamos sob os cuidados de uma idosa conhecida como Lelica ou Lolica, não me lembro bem.

Dona Firmina, agora viúva do senhor Joaquinzinho, veio morar conosco. Anteriormente ela morava na região conhecida como Sucuri onde comercializavam produtos da cana de açúcar. Nesse trabalho, Sebastião perdeu o braço que foi colhido pela moenda de engenho tocada a boi.

Daí por diante dona Firmina tornou companhia constante entre nós, era quase da família. Após a morte do senhor Joaquim, teve vários amores; entre eles, senhor Julião, pai do Valdecy.

Mamãe veio trabalhar na família de Dona Maria, professora, esposa do senhor Galêgo, motorista do Correio, pai do deputado Roberto Nunes e da Vereadora Chica Nunes.

O contato com a família de dona Maria abriu a porta para novas e singulares oportunidades!        



sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Memórias II

Após a morte de meu pai, o mundo mostrou sua face cruel. Logo na primeira infância conscientizei-me de que nada seria fácil, tudo tem seu preço.Os apelos para que fôssemos doados à família de maiores recursos, não faltaram. Porém minha mãe de sangue nordestino, não aquiesceu aos pedidos.

Não era possível viver com os parentes maternos, os paternos eram ignorados. O encontro de minha mãe com meu pai, nunca ficou esclarecido. Apenas sabíamos que um dia se encontraram, casaram e embrenharam para o sudoeste mato-grossense em busca de seringa, abundante na região do Juruena.

O sonho do meu pai era após alguns anos de trabalho, fixar residência em Rosário do Oeste e montar uma pensão e viver seus dias.
O sonho foi abortado pela violência da região; foi assassinado. No dia do assassinato do meu pai, um família com a qual compartilhávamos amizade partiu. Mais tarde surgiu a notícia de que ela sabia do plano da morte. Talvez o silencio foi a melhor decisão.

A primeira residência que ocupamos foi no bairro Várzea Ana Poupina, próximo ao Porto em Cuiabá. Moramos no lugar denominado, Morro do Tambor. Era uma casa simples. Da porta se via o quintal. Para chegar-se à cozinha, passava pela sala e quarto. Piso de tijolo queimado. O aluguel não me lembro como era pago.

Éramos três crianças que nos protegíamos mutuamente quando mamãe saia para trabalhar como doméstica.    Como mais velho, responsabilizava-me pelos menores, Jussara e Jorge. Houve uma segunda filha de meu pai, chamada Jurema, nasceu em Juruena, mas morreu ainda bebê.

Recordo-me que um dia, tentava acender o fogo com uma borracha que depois de acesa, joguei para fora. Ela caiu no peito do Jorge e grudou. O fogo começo crescer, porém com sabedoria dos anjos, consegui apagar. Houve muita dor e choro, mas sobreviveu.

Os amigos de infância eram cruéis, tentavam nos estuprar, mas Deus nos protegia!

Odete Maria Duarte, nossa super-mãe. Conduziu-me ao aprendizado das primeiras letras. Primeiro sob os cuidados de uma professora particular, depois matriculou-me na Escola Cândido Rondon, na rua Barcelos.

Lembro o nome da minha professora, Alice, senhora idosa, mas de uma paciência franciscana. Se hoje não sei dividir por dois números, a culpa não foi dela, eu é que faltei no dia em que ensinava divisão.      

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Memórias

Após acompanhamento do próstata, os médicos concluíram que a extração seria a forma mais viável para uma qualidade de vida. Os médico agendaram para hoje, dia 07/novembro a cirurgia no Hospital São Mateus em Cuiabá.

Sou grato ao Senhor às mensagens de encorajamento e confiança de irmãos e amigos.

Na enfermidade e na dor que surgem os amigos transformam-se em irmãos. Até parecem que sentem o mesmo que sinto. Lembra uma passagem na vida do apóstolo que afirmou aos cristãos de sua época que tudo fariam pelo bem estar do apóstolo.

Durante a jornada da vida, temos momentos felizes e momentos tristes. Recordo de que o momento mais triste da minha vida foi quando de uma forma violenta, perdi meu pai que foi morto de forma covarde na década de cinquenta no sudoeste de Mato Grosso. Ele era responsável pelos seringal na cidade que hoje denomina-se Juruena, nome do rio local.

Meu pai, em uma tarde brincava com a minha irmã mais jovem quando foi chamado para fornecer café e açúcar para os seringueiros. Saiu da casa, atravessou um largo e foi atender o pedido. Ao retornar, assobiando e balançando o chaveiro no dedo, recebeu uma carga de chumbo que o derrubou. Caído sai ao seu encontro, quando uma segunda carga o silenciou para sempre.

Minha mãe sozinha ficou no mundo com minha irmã e eu.

Retornamos para Cuiabá. Daí para frente o mundo mostrou sua face cruel; a segurança transformou em insegurança, o futuro em incógnita, o sonho em pesadelo. 

O que fazer para sustentar dois filhos? Ser doméstica, pedinte ou vender o corpo? Minha mãe passou por todas estas esferas, porém não abriu mão de nós!

Lembro-me de que no entardecer de mais uma noite nada tinha para o jantar, exceto um bife de fígado. Ela o fez e repartiu entre os três que agora já éramos quatro. Um lindo e forte garoto veio enriquecer a família, fruto de um amor furtuíto.

Mesmo assim,  desfrutei dos primeiros ensinos que transformaram-me em Teólogo e filósofo. Ela ensinava´me escrever e pronunciar. Eu costumava trocar o "l" pelo "n". Não pronunciava Alice, mas "Anice".

Minha mãe foi vítima de um câncer. Aos sessenta e dois anos foi morar com Senhor.
JCM