domingo, 2 de dezembro de 2012

MENSAGEM BATISTA AOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA


Palavra do Rev. Dr.
Timothy George*,
Delegado Fraternal, da
Aliança Batista Mundial,
para a Assembleia Geral do
Sínodo dos Bispos sobre “A
Nova Evangelização para a
Transmissão da Fé Cristã”.
Um evento organizado
pela Igreja Católica, que
traz um estudo comum
das condições da Igreja e
a solução concorde das
questões relativas à sua
missão (Cidade do Vaticano,
16 de outubro de 2012).
V
ossa Santidade, veneráveis membros
do Sínodo, irmãos
e irmãs no Senhor,
Cumprimento-vos no nome
de Jesus Cristo, o único salvador do mundo, e em nome da
Aliança Batista Mundial, uma
comunidade formada por
42 milhões de Cristãos servindo ao Senhor em aproximadamente 180.000 igrejas
espalhadas em 120 países.
Que um Cristão Batista seja
convidado a participar e a
falar neste Sínodo constitui
um momento de importância histórica. Sou grato pela
calorosa acolhida que me foi
ofertada.
Gostaria de enfatizar três
pontos no que diz respeito à
Nova Evangelização:
Em primeiro lugar, os Batistas confessam, juntamente
com todos os Cristãos, uma
robusta fé no único Deus trino, o qual, em sua grandiosa
graça e amor nos tornou participantes de sua vida divina
por meio de Cristo Jesus, o
Grande Evangelizador, que
nos salva somente pela gra-
ça. Esta fé está baseada nas
Santas e inspiradas Escrituras,
a Palavra de Deus escrita, especialmente na fundamental
confissão de São João, ho logos sarx egeneto, “e o Verbo
se fez carne, e habitou entre
nós” (João 1.14).
Já na obra Trinitate, Santo
Agostinho fala das missões
do Filho amado e do divino
Espírito, que cumprem o plano de salvação do Pai. Como
São Paulo declara em Gálatas
4.6: “Deus enviou aos nossos
corações o Espírito de seu
Filho”, nos alertando a clamar com as mesmas palavras
que Jesus nos ensinou: “Pai
nosso, Abba, Pai”. O Jesus
ressurreto nos entregou a
Grande Comissão para irmos
a todas as nações, evangelizando, batizando e catequizando – fazendo tudo isso
em nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo. Ignorando-se esta fundamentação
trinitária, todos os nossos
planos e programas voltados
a evangelização serão provados infrutíferos. O primeiro
parágrafo do Instrumentum
laboris nos lembra que a fé
Cristã não é “simples ensinamentos, sábios provérbios,
um código de moralidade ou
uma tradição”. Mas sim um
“encontro e relacionamento
verdadeiros com Cristo Jesus,
as Boas Novas e o maravilhoso presente de Deus para a
humanidade”.
Em segundo lugar, o Deus
missionário que entregou à
Igreja essa Comissão, também deu à ela um imperativo em favor da unidade
Cristã. Nós não somente
devemos proclamar as Boas
Novas a todos os povos,
mas fazê-lo de tal forma que
a unidade e o amor entre o
Pai e o Filho sejam visivelmente refletidos. “Como o
Pai me enviou, também eu
vos envio a vós”, disse Jesus.
E também, “Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos, se tiverdes amor
uns aos outros” (João 20.21;
13.35). A unidade Cristã
não é um fim em si mesmo,
mas está sempre a serviço
da evangelização. Onde o
nosso testemunho está fraturado, a nossa mensagem
é desprovida de persuasão,
senão inaudível. Batistas e
Católicos diferem no que
concerne a importantes assuntos eclesiásticos e teológicos, contudo, estamos
compromissados a buscar
um maior entendimento
mútuo por meio de um processo onde dialogamos em
amor e nos ouvimos com
respeito. Um exemplo desta
abordagem é o diálogo entre
a Aliança Batista Mundial e
o Conselho Pontifício para
promover a unidade Cristã,
que perdurou durante cinco
anos, e resultou no relatório
“A Palavra de Deus na vida
da Igreja”, a ser publicado
em um futuro próximo.
Em sua encíclica, Ut Unum
Sint, o Papa João Paulo II
enfatizou a memória dos
mártires como uma parte viva
do nosso testemunho Cristão
hodierno. Em uma visita à
Basílica de São Bartolomeu
alguns dias atrás, me foi mostrado o lindo ícone dos mártires cristãos, de leste a oeste,
norte e sul, dos séculos XX e
XXI. Fiquei muito comovido
ao encontrar lá a imagem
de dois Cristãos Batistas: o
primeiro, um humilde crente
que foi encarcerado e assassinado pelos comunistas na
Romênia; o outro, Martin Luther King Jr., um pastor Batista de meu próprio país. Jesus
orou ao Pai celeste que seus
discípulos fossem um para
que o mundo cresse. Como
dantes o sangue dos mártires foi a semente da igreja,
também agora o sangue dos
mártires de hoje é a semente
da unidade da igreja.
Em terceiro lugar, ao longo
de nossa história, os Batistas
têm sido campeões ardentes
da liberdade religiosa, não
apenas em favor próprio,
porém para o benefício de
todas as pessoas, em todos
os lugares. Nos tempos recentes, a liberdade religiosa
se tornou parte do discurso
moral público, conforme reflete o Art. 18 da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, o qual cada Cristão pode
e deve afirmar. Não obstante,
antes de ser a liberdade religiosa um direito, ela é um
dom; um dom arraigado no
próprio caráter de Deus e no
tipo de relacionamento para
o qual Ele chama a todos.
Conforme dispõe a Epístola
a Diogneto “Em Deus não
há violência” (Ep. Dg. 7:4).
Essa verdade foi claramente
refletida no Segundo Conselho Vaticano, onde muitos
teólogos batistas estavam
entre os observadores Protestantes. Na Declaração sobre
Liberdade Religiosa, Dignitatis humanae, encontramos
estas palavras: “Ainda que na
vida do Povo de Deus, que
peregrina no meio das vicissitudes da história humana,
houve por vezes modos de
agir menos conformes e até
contrários ao espírito evangé-
lico, a Igreja manteve sempre
a doutrina de que ninguém
deve ser coagido a acreditar”
(DH 12). Hodiernamente, em
muitos lugares, a liberdade
religiosa está sob ataque de
diversas formas – algumas
óbvias e outras mais sutis.
Todos os Cristãos que levam
a sério o chamado de Jesus
para evangelizar devem também se posicionar e trabalhar
em conjunto para a proteção
e o florescer da liberdade
religiosa universal, tanto para
indivíduos quanto para instituições de fé.
Na Homilia de 11 de outubro, marcando o princípio
do Ano da Fé, o Papa Bento XVI usou a imagem de
um deserto para descrever o
mundo que somos chamados
a evangelizar atualmente. De
fato, somos confrontados por
todos os lados por um ermo
estéril de desorientação e
desapego da fé. Existe um
desertum ad extra – secularismo e relativismo, resultando
em uma cultura de violência
e morte. E há também um
desertum ad intra – a agonia
do isolamento e da solidão,
abrindo alas à exasperação
sentida por tantos em nossos
dias.
Entretanto, as Escrituras
também nos lembram que
foi precisamente no deserto onde surgiu João Batista
para preparar o caminho do
Senhor afirmando: “Eis o
cordeiro de Deus, que tira
o pecado do mundo” (João
1.29). O profeta evangelista
Isaías afirmou que Deus fará
o deserto se regozijar e desabrochar como uma rosa.
E naquele lugar árido e seco
correrão rios de águas vivas.
Para aqueles que possuem
um coração temeroso, Ele
disse: “Seja forte, não tema!
Aqui está o seu Deus” (Is.
35.1-6). Que o Ano da Fé e o
Sínodo para a Nova Evangelização sejam um prenúncio
à renovação do evangelho e
renovador para a igreja e para
o mundo atual.
*O Rev. Dr. Timothy George é Reitor do Beeson Divinity School da Universidade
de Samford (EUA) e dirige a
Comissão de Doutrina e Unidade Cristã da Aliança Batista
Mundial.
(Tradução de D. B. Riker e
D. E. Riker, respectivamente
Reitor e Seminarista, Faculdade Teológica Batista Equato

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