sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Memórias II

Após a morte de meu pai, o mundo mostrou sua face cruel. Logo na primeira infância conscientizei-me de que nada seria fácil, tudo tem seu preço.Os apelos para que fôssemos doados à família de maiores recursos, não faltaram. Porém minha mãe de sangue nordestino, não aquiesceu aos pedidos.

Não era possível viver com os parentes maternos, os paternos eram ignorados. O encontro de minha mãe com meu pai, nunca ficou esclarecido. Apenas sabíamos que um dia se encontraram, casaram e embrenharam para o sudoeste mato-grossense em busca de seringa, abundante na região do Juruena.

O sonho do meu pai era após alguns anos de trabalho, fixar residência em Rosário do Oeste e montar uma pensão e viver seus dias.
O sonho foi abortado pela violência da região; foi assassinado. No dia do assassinato do meu pai, um família com a qual compartilhávamos amizade partiu. Mais tarde surgiu a notícia de que ela sabia do plano da morte. Talvez o silencio foi a melhor decisão.

A primeira residência que ocupamos foi no bairro Várzea Ana Poupina, próximo ao Porto em Cuiabá. Moramos no lugar denominado, Morro do Tambor. Era uma casa simples. Da porta se via o quintal. Para chegar-se à cozinha, passava pela sala e quarto. Piso de tijolo queimado. O aluguel não me lembro como era pago.

Éramos três crianças que nos protegíamos mutuamente quando mamãe saia para trabalhar como doméstica.    Como mais velho, responsabilizava-me pelos menores, Jussara e Jorge. Houve uma segunda filha de meu pai, chamada Jurema, nasceu em Juruena, mas morreu ainda bebê.

Recordo-me que um dia, tentava acender o fogo com uma borracha que depois de acesa, joguei para fora. Ela caiu no peito do Jorge e grudou. O fogo começo crescer, porém com sabedoria dos anjos, consegui apagar. Houve muita dor e choro, mas sobreviveu.

Os amigos de infância eram cruéis, tentavam nos estuprar, mas Deus nos protegia!

Odete Maria Duarte, nossa super-mãe. Conduziu-me ao aprendizado das primeiras letras. Primeiro sob os cuidados de uma professora particular, depois matriculou-me na Escola Cândido Rondon, na rua Barcelos.

Lembro o nome da minha professora, Alice, senhora idosa, mas de uma paciência franciscana. Se hoje não sei dividir por dois números, a culpa não foi dela, eu é que faltei no dia em que ensinava divisão.      

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