quinta-feira, 26 de março de 2020

Voando baixo


Jurandir Marques*
Certo dia, quando passava por uma avenida de Cuiabá, contemplei um fato curioso que me chamou a atenção. Vários carros cruzavam a avenida e, em determinado momento, um passarinho cruzou o asfalto e foi repentinamente colhido por um automóvel, caindo zonzo no meio da avenida. Logo me veio a mente a seguinte conclusão: “Estava voando baixo”.
Ao passarinho foram dadas asas para voar. Para voar alto, acima dos riscos e dos perigos. Mas ele voava baixo, entre os mesmos perigos e riscos que podia evitar e foi colhido pela fatalidade.
Logo associei aquele fato ao cristão. Muitos deles estão caídos nas estradas da vida, simplesmente porque estavam voando baixo demais e foram colhidos pelo inimigo das nossas almas.
Adão e Eva voavam baixo quando foram feridos pela serpente e perderam o paraíso e a imortalidade.
Davi voava baixo quando foi colhido pelo desejo em possuir Bate Seba. Seu exército estava no campo de batalha.
Sansão voava baixo quando se deixou seduzir pelos encantos de Dalila e perdeu o compromisso com Deus.
O filho pródigo voava baixo quando abandonou o pai. Voou tão baixo que acabou em uma pocilga.
A esta lista poderiam ser apresentados outros exemplos. Não apenas do passado, mas também do presente. Exemplos meus e exemplos seus de quantas vezes fomos feridos, até mesmo de morte, porque estávamos voando baixo demais.
Aquele passarinho tinha o recurso das asas. Nós, os cristãos, temos o recurso da presença do Espírito Santo. O passarinho negligenciou a força das suas asas e por isso foi colhido pelo veículo. Quando desprezamos o auxílio do Espírito Santo, somo colhidos pelos riscos e perigos impostos por Satanás.
Voar alto é aprender obedecer a Deus. Em 1 Samuel 15.22 está escrito: “Samuel, porém, respondeu: ‘Acaso tem o Senhor tanto prazer em holocausto e em sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? A obediência é melhor do que a gordura de carneiros”.
As crianças quando vão à escola aprendem o ABC, a pessoa quando se converte, aprende o OBDC.
Nenhum voo é mais baixo que o voo da desobediência a Deus. Muitos cristãos hoje estão feridos de morte devido a desobediência.
Voar alto é agradar a Deus, viver vida íntegra. Negócios lícitos. Não mentir. Dar bom testemunho aos de fora.
Agradar a Deus é realizar boas obras. Aliás, Tiago diz que a verdadeira religião é feita de boas obras. “A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não deixar corromper pelo mundo (Tg 1.27).
Agradar a Deus é viver em Espírito e não carne. “As pessoas que vivem de acordo com a sua natureza humana não podem agradar a Deus” (Rm 8.8).
Agradar a Deus é não viver de aparência. Muitos cristãos são verdadeiros transformistas. Na igreja são excelentes filhos, esposos, pais. Quando são convidados para orar, falam tão baixo que nem quem está ao lado ouve, mas na rua, no mercado, no ambiente de trabalho, no lar, é preciso pedir para baixarem a voz.
Agradar a Deus é viver pela fé. As Escrituras dizem: “sem fé é impossível agradar a Deus”. (Hb 11.6). Este texto mostra que para agradar a Deus é preciso crer na sua existência e crer Ele recompensa os que procuram conhecê-lo melhor.
Agradar a Deus é viver em comunhão com ele e com seu povo. Paulo, escrevendo aos cristãos da cidade de Corinto (2Co 6.14), faz a seguinte pergunta: “Como é que a luz e a escuridão podem viver juntas?” Paulo encerra suas cartas convidando os cristãos a viverem uma vida de comunhão: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, a comunhão de Deus Pai e a presença do Espírito Santo seja com todos” (2Co 13.13).
Quando o cristão procura agradar a Deus, obedecê-Lo e desenvolver um estilo de vida onde está presente a comunhão com o Senhor e seu povo, ainda que seja colhido pelos perigos e riscos desta vida, ele poderá se recuperar e voltar a voar alto.
O passarinho colhido pelo veículo ficou atordoado no meio do asfalto por alguns momentos. Depois alçou voo e saiu do perigo. Voou alto. Assim é o cristão que obedece, agrada e vive em comunhão com Deus. Se for ferido, terá condições para se recuperar e retomar seu voo alto.
*Professor de Filosofia, Tangará da Serra-MT

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O Reino já chegou, o Reino está chegando



Escatologia trata-se do estudo das últimas coisas. Esta terminologia predominou a partir do século XX. Este tema sempre esteve envolto em grande complexidade e curiosidade que levou alguns escritores bíblicos a fazerem algumas afirmações:

a.    Moisés – “As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.” (Dt 29.29)
b.    Daniel – “Ouvi, porém não entendi; então, eu disse: meu SENHOR, qual será o fim destas coisas.” (12.8). E o SENHOR respondeu (v.9) “...estas palavras estão encerradas e seladas até o tempo do fim;”. 
Os estudos proféticos e escatológicos parecem estar coincidindo com o final dos tempos. (Shedd).

O primeiro ponto dentro do estudo escatológico é o Reino de Deus. Tema abordado frequentemente pelo Senhor Jesus (MT. 12:28. A entrada no Reino passa pelo arrependimento. Mc 1. 14,15 - Arrepender, significa em português “ser penitente de novo”, tradução da palavra grega metanoeo, “mudar de mentalidade/pensamento”. 

O paralelo em hebraico é shub (120x no AT) tem o sentido de voltar a Deus. No contexto da conversão, aponta para uma mudança radical de vida em consequência da fé colocada em Cristo (At 3.19;26.20; 1Ts 1.9). 

Todos devem nascer de novo (Jo.3.3). A expressão de novo (anõthen) tem três significados: 

a) “de cima” (Jo 3.31);

b) “desde do início” (Lc 1.3; At 26.5);

c) “de novo” (Gl 4.9). A tradução que mais aplica ao arrependimento é “De cima”.(Mc 9:1; Lc. 13.18 – 20; Jo. 3.3). 

O significado básico de Reino é governo de Deus. Não em um sentido geográfico, mas como uma noção dinâmica.
Reino de Deus é um governo dinâmico, um governo em ação (Sl. 145.13; Dn. 2,44). Daniel diz que nos tempos dos reinos humanos, (Tibério Cesar, Pôncio Pilatos e Herodes), Deus estabelece o reino dos Céus.

O Credo Apostólico menciona a ocasião do sofrimento de Cristo” sob Pôncio Pilatos”, e Lucas toma grande cuidado em dar a data humana da vinda de Cristo, ou do Reino. Lc 1.5; 2.2; 3.1,2

REINO DE DEUS NO VT

No VT, Deus é visto como soberano sobre todas as coisas. “O Senhor reina... O grande Rei sobre todos os deuses" (Sl. 93.1; 95.3). Porém, o Reino de Deus sempre enfrentou resistência. O inimigo conduziu toda a humanidade a rebelar contra Deus (Gn.3). As nações vivem em idolatria e impiedade (2 Reis 17.29). Porém, Deus estabelecerá o seu Reino apesar de toda oposição (Is. 2.1-5; Zac. 14.9s).

O dia do estabelecimento é conhecido como Dia do Senhor que é uma expressão associada com o Reino messiânico (Is. 4.2; 9.6s).
O Messias que procedeu do trono de Davi será o grande governador (1Cron 17.11-14; Sl.72) e através dele o Dia do Senhor virá em juízo para as nações e libertação do povo de Israel (Ml 3.1ss). 

Continua........

sábado, 1 de fevereiro de 2020

A EXISTÊNCIA DE YHWH (DEUS)


Jurandir Marques – Professor de Filosofia, IPES/Tangará da Serra/MT

Os escritores bíblicos não preocuparam em apresentar provas da existência do Eterno. O pentateuco começa relatando um Deus em ação: No princípio, criou Deus os céus e a terra...”. Ação é atitude de um ser.
No campo da filosofia existem alguns argumentos extraídos da história por Immanuel Kant (1724-1804), afirmando de que há somente três provas da existência de YHWH a partir da razão especulativa. Porém refuta-os, alegando que como absoluto, não aparece como fenômeno (ou seja, no tempo e no espaço). Sendo que segundo ele, todo conhecimento obedece aos limites da razão, e tem como um os seus atributos o entendimento fundado na regra da causalidade.
Os argumentos apresentados são: a) Cosmológico, este argumento fundamenta-se no estagirita, Aristóteles (348-322 a.C) com seu argumento do “primeiro-motor”. No século XVI, Tomás de Aquino retoma este argumento e o filósofo alemão Leibniz no século XVIII. Este argumento conclui a existência de um ente necessário a partir da existência em geral. De acordo com Tomás de Aquino, “se algo existe, deve existir um ente absolutamente necessário” pois toda coisa deve ter uma causa absolutamente necessária, que será chamada de YHWH. A existência de uma causa primeira de todas as coisas é necessária uma vez que todo efeito tem causa.  Sem causa não haverá efeito, portanto, se não existisse a causa primeira chamada YHWH, simplesmente não haveria as coisas.
b) Ontológico, argumento surgido e desenvolvido na Idade Média por Anselmo (1033-1109), retomado por Renê Descartes (1596-1659). Encontra fundamento no princípio de que um ser perfeito teria, necessariamente, a existência como um de seus atributos. Segundo Descartes, tudo aquilo que concebemos como essência ou parte de uma coisa é verdadeiro. A existência é parte da essência de um ser perfeito, ou seja, a existência é a verdade de um ser perfeito; a partir dessa observação, conclui-se que um ser perfeito existe. A afirmação segundo a qual a existência é parte da essência de um ser perfeito traz implícito o argumento central da prova ontológica, qual seja, a existência é uma propriedade ou qualidade, e como tal deve ser parte integrante do ser perfeito: todas as perfeições pertencem à essência de um ser perfeito, e como a existência é uma perfeição, a existência pertence à essência do ser sumamente perfeito.
c) Físico-teológico é um desenvolvimento da função especulativa aristotélica e influenciou diversas correntes do pensamento, constituindo hoje uma das bases de princípios religiosos fundamentalistas e criacionistas. Sua origem se encontra na percepção de que existe uma ordem e uma harmonia no mundo, o que exigiria um princípio ordenador, que só poderia ser encontrado em alguma forma de inteligência superior, design inteligente,  um “arquiteto” do universo