sábado, 23 de fevereiro de 2013

Não aguento mais cantar corinhos.....

Socorro, quero um culto velho A força da ignorância 
(ou: socorro, não agüento mais cantar corinhos!) Preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho para o Encontro de Músicos, na PIB de Manaus.
 
 
Vivemos mesmo numa época de ignorância, de obscuridade intelectual e de irracionalismo. Infelizmente, a ignorância tem se tornando jóia cultivada neste país, e os mais pensantes são cada vez mais postos de lado. Quando um político de expressão nacional diz que livro é como academia de ginástica: a gente olha e foge, é porque a coisa ficou feia mesmf o. O pior é que a ignorância é cultivada com arrogância.
Parece que quanto mais ignorante, mais digno de crédito. E a espiritualidade evangélica tem se distanciado do pensar, que tem sido cada vez mais visto como ato carnal, quando não diabólico. A ignorância está em alta. Está difícil ser evangélico, também, hoje, a quem é pensante.
 
Ouvi no noticiário televisivo: um rapaz de vinte e poucos anos, gaúcho, estudante de Teologia na Bolívia, desapareceu nos Andes, quando fora escalar uma montanha de 6.300 metros. O rapaz não tem experiência alguma de alpinista, e ainda assim foi sozinho porque, segundo a mãe, queria ter uma experiência com o Espírito Santo, queria encontrar o Espírito Santo. Como achou que ele é boliviano e mora nos Andes foi fazer a escalada.

Com todo respeito: o que leva a uma pessoa a sair do Rio Grande do Sul onde há bons seminários, passando pelo Paraná, onde também os há, e ir estudar Teologia na Bolívia? Respeitosamente: desde quando a Bolívia tem expressão em ensino teológico? Este jovem não tinha um pastor que o orientasse? E o que leva alguém, sem experiência alguma, a escalar sozinho uma montanha de 6.300 metros para encontrar o Espírito Santo?
De onde lhe veio a idéia de que numa montanha encontraria o Espírito?
E como convertido e aparentemente vocacionado, ainda não encontrara o Espírito? O que ensinaram a este jovem na igreja e depois no seminário? Sei que a família está sofrendo e que é hora de consolar, mas não posso deixar de dizer: quanta gente tonta, sem noção das coisas, e usando a espiritualidade como pretexto para a falta de juízo! Mas isto é reflexo do cristianismo que pregamos e cantamos hoje em dia. Cantamos autênticos absurdos teológicos e que se chocam contra a Bíblia, e ficamos por isto mesmo. As pessoas não pensam no que cantam, mas se apenas o ritmo é bom, agitado e as faz sentirem-se bem.
 
Temos um cristianismo cada vez mais sem Cristo, e cada vez mais com o Espírito Santo, sendo que por Espírito Santo as pessoas entendem uma experiência extra-sensorial. Porque uma experiência com o Espírito aproxima mais de Cristo, pois esta é sua missão. O evangelho está se tornando um ajuntamento de sentimentos, sensações, experiências místicas. Culpo um púlpito que não é exegético e corinhos ingênuos e até tolos. Os muitos corinhos que enxameiam nossa liturgia nos fazem cantar tantas inconveniências que fico abismado que pessoas razoavelmente lúcidas em sua vida secular cantem aquelas letras. Boa parte delas é confusa, sendo difícil ligar uma linha à outra. Pessoas que são professores cantam tantos erros de português, em que “tua” e “sua”, que são pessoas diferentes, se misturam e por vezes nem se sabe quando se fala de Deus ou de alguma outra pessoa.
Raramente se fala de Jesus, e quando se fala dá para notar que Jesus é cada vez mais um conceito para dentro qual as pessoas projetam seus sonhos de consumo ou de classe média, que o Redentor e Salvador. A linguagem é horrorosa: mergulhar nos teus rios, beber nos teus rios, voar nas asas do Espírito, subir o monte de Sião, estar apaixonado por Jesus, subir acima dos querubins, uma série de expressões que não fazem sentido algum. Mas os compositores estão acima da crítica, mesmo quando fazem coisas ridículas, como andar de quatro em público. E quem canta os tais corinhos se sente bem.
E também não aceita correção. Quem tenta corrigi-los em suas heresias e tolices é vaidoso, carnal, fossilizado, etc. O que vale não é se o que se canta é certo, mas se faz bem. As pessoas querem se sentir bem e ter alguma experiência. O conteúdo do que se canta é irrelevante. Sendo honesto: não agüento mais cantar corinhos! Chamem-me de vaidoso ou pernóstico, que não fará diferença, mas a maior parte dos corinhos, mesmo que na nova semântica se chamem pomposamente de louvor, é uma ofensa a quem sabe ler e interpretar um texto e tem uma noção mínima de conteúdo da Bíblia.
 
“Eu tenho a força”, bradava He-Man. Uma força mística, não divina, mas uma energia cósmica. Parece-me que é essa força espiritual que as pessoas buscam. Eles não querem aprofundamento no evangelho nem estudar a Bíblia.
Eles querem sensações e experimentar uma força. O evangelho está se diluindo no esoterismo que grassa no mundo atual.
 
Esta é uma palavra especial aos pastores e ministros de música, que julgo eu, são as pessoas mais responsáveis pelo que acontece e que podem mudar a situação. Quero alinhavar algumas sugestões e lhes peço, respeitosamente, que pensem nelas.
 
1. FUJAM DO COPISMO
 
Chacrinha dizia que “na televisão nada se cria, tudo se copia”. No cenário evangélico também. Há uma usina produtora de corinhos, de forma comercial, que massifica nossas igrejas. Nossos jovens cantam as mesmas coisas vazias em todos os lugares. Em várias igrejas se vê a mesma deselegância de adolescentes robustas, saltitando, num monte de véus, no que pretende ser uma coreografia, mas que mostra gestos descoordenados e deselegantes. Chega a ser triste de ver as pessoas saltitando sem habilidade e com uns gestos que nada têm a ver com o ritmo da música. E a gente fica sem saber o que fazer: se olha as jovens pulando, se pensa no que está cantando, se nota as figuras do multimídia, ou os erros de português das letras, ou ainda o embevecimento do chamado “grupo de louvor”, que volta atrás, repete uma estrofe (quando há estrofe), tremelica a voz, faz ar de quem está sentindo dor. Mas é o padrão na maior parte das igrejas. Parece um shiboleth. Quem não faz assim corre risco de ser execrado. Porque os detentores da verdade litúrgica inovadora são fundamentalistas: fora do modelo deles não há louvor nem espiritualidade. Mas eu pergunto: é preciso fazer tudo igual?
Convencionou-se que sim, porque ser antiquado é uma ofensa inominável. E para alguns, fora do padrão corinhos e danças tudo é velharia e não há espiritualidade.
 
Se você é líder e não concorda, diga que não concorda. Não ceda por medo. Há pastores que têm medo de perder o pastorado e cedem a direção do culto aos jovens. Eles cantam, cantam, e depois se sentam e se desligam do resto da atividade, quando não saem do templo. Há um descompasso entre o que se cantou e o que se prega. Porque se canta um evangelho muito diluído. Há pastores que têm medo de perder o rebanho, massificado por este padrão, e o usam. Tenho ido a igrejas em que pastores ficam alheios aos corinhos (recuso-me a chamá-los de “louvor”), mas dizem-me candidamente: “Eu não gosto, mas o pessoal gosta”. Ele deixa de ser o orientador do povo e passa a ser um garçom que serve o que o povo gosta. Ministro de música também age assim. E também está errado. Se estudou música e passou por um seminário deve ter uma proposta de liturgia menos medíocre e que atenda a todas as faixas etárias da igreja. É sua responsabilidade. Nossos cultos estão sendo empobrecidos pelos corinhos. A música é de baixa qualidade e as letras são aguadas. Os corinhos são cada vez mais efêmeros. Ministro de música, não copie a pobreza musical e intelectual dos corinhos.
Pensar não é pecado. E ser inteligente também não é. Se os “levitas” podem discordar dos que chamam depreciativamente de “conservadores”, por que nós, conservadores, não podemos discordar dos “mediocrizadores” da música evangélica?
 
2. O QUE A BÍBLIA DIZ?
 
Tudo na igreja deve ser submetido ao crivo da Bíblia, inclusive o que se canta. Os compositores não estão escrevendo uma nova revelação e estão sujeitos ao crivo da Bíblia. Devem ser humildes e não pensarem de si como oráculos de Iahweh. Quem queira subir o monte santo de Sião deve ler (Hebreus 12:22-29) e ver que ele é um símbolo do evangelho, da igreja de Deus, e que cada crente já está nele. O monte Sião não tem nada para nós. Quem queira subir acima dos querubins deve ler (Isaías 14) e verificar que alguém quis fazer isto no passado e foi expulso do céu. Quem cante “Quero ver a tua face, quero te tocar”, deve se lembrar que Deus disse a Moisés: “Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá” (Êxodo 33:20).
 
As primeiras declarações de fé da igreja foram expressas em cânticos. Muitas afirmações litúrgicas do Novo Testamento foram expressões teológicas que firmaram os cristãos. Lutero firmou a Reforma com suas pregações, seus escritos, mas muito mais com seus cânticos. São cânticos que ficam na mente e muita gente está subindo o monte porque canta isto. A igreja precisa cantar sua fé e sua fé está na Bíblia.
Toda letra de cântico deve ser submetida ao crivo bíblico. O certo não é o que a pessoa sente nem se o que ela canta lhe faz bem. O certo é o que está de acordo com a Bíblia.
 
O conteúdo do evangelho foi muito definido: Cristo crucificado. Mas pouco se cantam Cristo e a sua cruz. Precisamos cantar o ensino da Bíblia. “Doce canto vem no ar com a primavera, Flores lindas vão chegar com a primavera, Lírios, dálias e alecrins, Violetas e jasmins, O sol vai brilhar, passarinhos vão cantar, Com a primavera”. O que isto tem a ver com Cristo, com a salvação, com a segurança dos salvos?
 
Temos abandonado a Bíblia como fonte de doutrina, trocando-a por revelações e sonhos de gurus. Temo-la abandonado como inspiradora de modelo gerencial para a igreja, assumindo padrões de administração humana. Muita pregação, mesmo com ela sendo lido, é apenas emissão de conceitos culturais, e sendo ela mero pretexto para o discurso. E temo-la deixado de lado como balizadora do que cantamos. A função do cântico não é distrair as pessoas nem fazê-las sentir-se bem no culto, mas ensinar as grandes verdades de Deus. O culto deve ser doutrinador, sim. Preguei num congresso de jovens em Manaus, e deselegantemente, o dirigente tomou a palavra após minha fala e disse: “Não me interesso por doutrina, e sim por Jesus”. Pedi o microfone de volta e fiz uma pergunta: “Sem doutrina, que Jesus você tem?”.
 
Com nossos cânticos atuais, não temos Jesus. Em muitos deles temos um espírito de grupo, uma cultura grupal ou um Espírito que mais se parece com a Força de He-Man que com o Espírito Santo. É preciso subordinar tudo ao crivo da Bíblia. O evangelho está se tornando cada vez menos bíblico e mais sentimental. Porque está faltando Bíblia.
 
3. NÃO DESPREZE SUA HERANÇA TEOLÓGICA E LITÚRGICA
 
O terceiro aspecto que abordo é este: não despreze sua herança teológica e litúrgica. Há uma tradição que engessa e que fossiliza. Mas há uma tradição que enriquece e que dá balizamento. O evangelho não começou agora. A igreja não surgiu há alguns poucos anos. Os momentos de louvor e adoração não foram criados agora. Muitos deles, no passado, deixaram marcas profundas de avivamentos que impactaram a sociedade.
 
Até agora caí de tacape e borduna nos corinhos, sem abrir espaço para reconhecer que alguns sejam bons. Foi de propósito. Creio que consegui um pouco de atenção. Creio que há cânticos bons e que trazem conceitos espirituais seguros. São coerentes, biblicamente falando. E respeitam a herança teológica do protestantismo. Porque este critério também tem valor: os cânticos estão reafirmando nossa fé ou modificando a nossa fé?
Infelizmente, a maioria me deixa desconfortado: não os canto porque não expressam minha fé, a fé em que fui criado, a “bendita fé de nossos pais”, como diz um hino.
 
Nós temos um passado e não podemos fugir dele. A ignorância do passado leva a cometer os mesmos erros cometidos. Houve uma longa luta para firmar o cânon do Novo Testamento, e precisamos lembrar que é ele que interpreta o Antigo. Muita gente tem cantado o Antigo Testamento, mas nós somos cristãos.
Nós cantamos a fé em Cristo. Se o Antigo Testamento é pregado, deve ser interpretado pelo Novo. Se o Antigo é cantado, deve ser interpretado pelo Novo. Estão querendo rejudaizar o evangelho, questão que a igreja já resolvera em (Atos 15) e contra a qual Paulo escreveu a sua mais dura carta, a epístola aos gálatas.
Somos filhos do Novo Testamento, e não do Antigo. Somos filhos dos evangelhos e das epístolas, e não de Salmos, embora Jesus os usasse.
Mas seu próprio jeito de usar os salmos nos orienta: ele os reinterpretou em sua pessoa. Cantemos Jesus, cantemos a fé cristã e não meras sensações, cantemos a cruz, o túmulo vazio, o perdão dos pecados. Cantemos a Igreja, e não Israel. Somos cristãos e não judeus. Cantemos que “a cruz ainda firme está e para sempre ficará”.
 
Somos salvos pela graça por meio da fé em Cristo. Não somos salvos pelo Espírito Santo nem por uma experiência litúrgica. O Espírito é uma pessoa e não sensações: “O Espírito Santo se move em você com gemidos inexprimíveis” é algo sem sentido. Ele geme por nós, em oração, com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26). Mas não se move dentro de nós, com gemidos. O ponto central do evangelho é Cristo e sua cruz.
Este é nosso tesouro teológico, herança à qual devemos nos agarrar.
Qualquer cântico que deslustre isto, que diminua Jesus, que esmaeça a cruz, é blasfêmia. Não quero cânticos de auto-ajuda. Quero Jesus e sua cruz. Quem tem Jesus não precisa de muletas emocionais. Quero cânticos bíblicos, de acordo com a fé que uma vez foi entregue aos santos (Jd 3).
 
CONCLUSÃO
 
Sei que foi uma palestra dura. Não vou me desculpar porque o que eu disse é o que eu creio. Sim, estou cansado da ditadura litúrgica que me parece associada a um fundamentalismo: só nós sabemos o que é espiritual e vocês estão fora, são do passado, são frios, são formais.
Eu me recuso a cantar bobagens com roupagem espiritual. E desafio vocês a restaurarem a liturgia com conteúdo, com ensino. Desafio-os a não cederem à força da pobreza litúrgica que nos avassala.
 
Há algo mais comovente e com mais conteúdo que “Castelo Forte”, “Aleluia”, “Amazing Grace”? Por que a ditadura dos corinhos? Por que, no natal, sou obrigado a cantar que quero voar nas asas do Espírito?
Que os compositores de corinhos componham música de boa qualidade com letras de conteúdo, e ajustada às épocas, também. Os corinhos são monocromáticos.
Dizem sempre a mesma coisa. Nunca ouvi um exortando à confissão de pecados, falando do natal, da dedicação de crianças, da semana da paixão, de missões, da Bíblia como Palavra de Deus. Tudo é igual: louvar, adorar, contemplar, sentir-se bem. Não permitam a monocromia, que é sinal de pobreza.
 
Escrevi, tempos atrás, um artigo intitulado “Quero uma igreja velha”.
Esta palestra é um desabafo e um pedido de ajuda: “Socorro, quero um culto velho”. Com a Bíblia exposta, com solenidade, com cânticos com nexo, com os grandes hinos de nossa fé, com Cristo e sua cruz brilhando. Sim, estou cansado da liturgia atual, que é pobre e alienante.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Entrevista de Leonardo Boff que a Folha de São Paulo preferiu não publicar .


1.Como o Sr. recebeu a renúncia de Bento XVI?

R/ Eu desde o principio sentia muita pena dele, pois pelo que o conhecia, especialmente em sua timidez, imaginava o esforço que devia fazer para saudar o povo, abraçar pessoas, beijar crianças. Eu tinha certeza de que um dia ele, aproveitaria alguma ocasião sensata, como os limites fisicos de sua saúde e menor vigor mental para renunciar. Embora mostrou-se um Papa autoritário, não era apegado ao cargo de Papa. Eu fiquei aliviado porque a Igreja está sem liderança espiritual que suscite esperança e ânimo. Precisamos de um outro perfil de Papa mais pastor que professor, não um homem da instituição-Igreja mas um representante de Jesus que disse: “se alguém vem a mim eu não mandarei embora” (Evangelho de João 6,37), podia ser um homoafetivo, uma prostituta, um transsexual.

2. Como é a personalidade de Bento XVI já que o Sr. privou de certa amizade com ele?

R/ Conheci Bento XVI nos meus anos de estudo na Alemanha entre 1965-1970. Ouvi muitas conferências dele mas não fui aluno dele. Ele leu minha tese doutoral: O lugar da Igreja no mudo secularizado” e gostou muito a ponto de achar uma editora para publicá-la, um calhamaço de mais de 500 pp. Depois trabalhamos juntos na revista internacional Concilium, cujos diretores se reuniam todos os anos na semana de Pentecostes em algum lugar na Europa. Eu a editava em portugues. Isso entre 1975-1980. Enquanto os outros faziam sesta eu e ele passeávamos e conversávamos temas de teologia, sobre a fé na América Latina, especialmente sobre São Boaventura e Santo Agostinho, do quais é especialista e eu até hoje os frequento a miúde. Depois em 1984 nos encontramos num momento conflitivo: ele como meu julgador no processo do ex-Santo Ofício, movido contra meu livro Igreja: carisma e poder” (Vozes 1981). Ai tive que sentar na cadeirinha onde Galileo Galilei e Giordano Bruno entre outros sentaram. Submeteu-me a um tempo de “silêncio obsequioso”; tive que deixar a cátedra e proibido de publicar qualquer coisa. Depois disso nunca mais nos encontramos. Como pessoa é finíssimo, tímido e extremamente inteligente.

3. Ele como Cardeal foi o seu Inquisidor depois de ter sido seu amigo: como viu esta situação?

R/Quando foi nomeado Presidente da Congregação para a Doutrina da Fé(ex-Inquisição) fiquei sumamente feliz. Pensava com meus botões: finalmente teremos um teólogo à frente de uma instituição com a pior fama que se possa imaginar. Quinze dias após me respondeu, agradecendo e disse: vejo que há várias pendências suas aqui na Congregação e temos que resolvê-las logo. É que praticamentea cada livro que publicava vinham de Roma perguntas de esclarecimento que eu demorava em responder. Nada vem de Roma sem antes de ter sido enviado a Roma. Havia aqui bispos conservadores e perseguidores de teólogos da libertação que enviavam as queixas de sua ignorância teológica a Roma a pretexto de que minha teologia poderia fazer mal aos fiéis. Ai eu me dei conta: ele já foi contaminado pelo bacilo romano que faz com que todos os que aitrabalham no Vaticano rapidamente encontram mil razões para serem moderados e até conservadores. Então sim fiquei mais que surpreso, verdadeiramente decepcionado.

4. Como o Sr. recebeu a punição do “silêncio obsequioso”?

R/ Após o interrogatório e a leitura de minha defesa escrita que está como adendo da nova edição de Igreja: charisma e poder (Record 2008) são 13 cardeais que opinam e decidem. Ratzinger é um apenas entre eles. Depois submetem a decisão ao Papa. Creio que ele foi voto vencido porque conhecia outros livros meus de teologia, traduzidos para alemão e me havia dito que tinha gostado deles, até, uma vez, diante do Papa numa audiência em Roma fez uma referência elogiosa. Eu recebi o “silêncio obsequioso” como um cristão ligado à Igreja o faria: calmamente o acolhi. Lembro que disse: “é melhor caminhar com a Igreja que sozinho com minha teologia”. Para mim foi relativamente fácil aceitar a imposição porque a Presidência da CNBB me havia sempre apoiado e dois Cardeais Dom Aloysio Lorscheider e Dom Paulo Evaristo Arns me acompanharam a Roma e depois participaram, numa segunda parte, do diálogo com o Card. Ratzinger e comigo. Ai éramos três contra um. Colocamos algumas vezes o Card Ratzinger em certo constrangimento pois os cardeais brasileiros lhe asseguravam que as críticas contra a teologia da libertação que ele fizera num document saido recentemente eram eco dos detratores e não uma análise objetiva. E pediram um novo documento positivo; ele acolheu a idéia e realmente o fez dois anos após. E até pediram a mim e ao meu irmão teólogo Clodovis que estava em Roma que escrevêssemos um esquema e o entregássemos na Sagrada Congregação. E num dia e numa noite o fizemos e o entregamos.

5. O Sr deixou a Igreja em 1992. Guardou alguma mágoa de todo o affaire no Vaticano?

R/ Eu nunca deixei a Igreja. Deixei uma função dentro dela que é de padre. Continuei como teólogo e professor de teologia em várias cátedras aqui e fora do pais. Quem entende a lógica de um sistema autoritário e fechado, que pouco se abre ao mundo, não cultiva o diálogo e a troca (os sistemas vivos vivem na medida em que se abrem e trocam) sabe que, se alguém, como eu, não se alinhar totalmente a tal sistema, será vigiado, controlado e eventualmente punido. É semelhante aos regime de segurança nacional que temos conhecido na A.Latina sob os regimes militares no Brasil, na Argentina, no Chile e no Uruguai. Dentro desta lógica o então Presidente da Congregação da Doutrina da Fé (ex-Santo Oficio, ex-Inquisição), o Card. J. Ratzinger condenou, silenciou, depôs de cátedra ou transferiu mais de cem teólogos. Do Brasil fomos dois: a teóloga Ivone Gebara e eu. Em razão de entender a referida lógica, e lamentá-la, sei que eles estão condenados fazer o que fazem na maior das boas vontades. Mas como dizia Blaise Pascal:”Nunca se faz tão perfeitamente o mal como quando se faz de boa vontade”. Só que esta boa-vontade não é boa, pois cria vítimas. Não guardo nenhuma mágoa ou ressentimento pois exerci compaixão e misericórdia por aqueles que se movem dentro daquela lógica que, a meu ver, está a quilômetros luz da prática de Jesus. Aliás é coisa do século passado, já passado. E evito voltar a isso.

6. Como o Sr. avalia o pontificado de Bento XVI? Soube gerenciar as crises internas e externas da Igreja?

R/ Bento XVI foi um eminente teólogo mas um Papa frustrado. Não tinha o carisma de direção e de animação da comunidade, como tinha João Paulo II. Infelizmente ele será estigmatizado, de forma reducionista, como o Papa onde grassaram os pedófilos, onde os homoafetivos não tiveram reconhecimento e as mulheres foram humilhadas como nos USA negando o direito de cidadania a uma teologia feita a partir do gênero. E também entrará na história como o Papa que censurou pesadamente a Teologia da Libertação, interpretada à luz de seus detratores, e não à luz das práticas pastorais e libertadoras de bispos, padres, teólogos, religiosos/as e leigos que fizeram uma séria opção pelos pobres contra a pobreza e a favor da vida e da liberdade. Por esta causa justa e nobre foram incompreendidos por seus irmãos de fé, e muitos deles presos, torturados e mortos pelos órgãos de segurança do Estado militar. Entre eles estavam bispos como Dom Angelelli da Argentina e Dom Oscar Romero de El Salvador. Dom Helder foi o mártir que não mataram. Mas a Igreja é maior que seus papas e ela continuará, entre sombras e luzes, a prestar um serviço à humanidade, no sentido de manter viva a memória de Jesus, de oferecer uma fonte possível de sentido de vida que vai para além desta vida. Hoje sabemos pelo Vatileaks que dentro da Cúria romana se trava uma feroz disputa de poder, especialmente entre o atual Secretário de Estado Bertone e o ex-secretário Sodano já emérito. Ambos tem seus aliados. Bertone, aproveitando as limitações do Papa, construiu praticamente um governo paralelo. Os escândalos de vazamento de documentos secretos da mesa do Papa e do Banco do Vaticano, usado pelos milionários italianos,alguns da mafia, para lavar dinheiro e mandá-lo para fora, abalaram muito o Papa. Ele foi se isolando cada vez mais. Sua renúncia se deve aos limites da idade e das enfermidades mas agravadas por estas crises internas que o enfraqueceram e que ele não soube ou não pode atalhar a tempo.

7. O Papa João XXIII disse que a Igreja não pode virar um museu mas uma casa com janelas e portas abertas. O Sr. acha que Bento XVI não tentou transfomar a Igreja novamente em algo como um museu?

R/ Bento XVI é um nostálgico da síntese medieval. Ele reintroduziu o latim na missa, escolheu vestimentas de papas renascentistas e de outros tempos passados, manteve os hábitos e os cerimoniais palacianos; para quem iria comungar, oferecia primeiro o anel papal para ser beijado e depois dava a hóstia, coisa que nunca mais se fazia. Sua visão era restauracionista e saudosista de uma síntese entre cultura e fé que existe muito visível em sua terra natal, a Baviera, coisa que ele explicitamente comentava. Quando na Universidade onde ele estudou e eu tambem, em Munique, viu um cartaz me anunciando como professor visitante para dar aulas sobre as novas fronteiras da teologia da libertação pediu o reitor que protelasse sine dia o convite já acertado. Seus ídolos teológicos são Santo Agostinho e São Boaventura que mantiveram sempre uma desconfiança de tudo o que vinha do mundo, contaminado pelo pecado e necessitado de ser resgatado pela Igreja. É uma das razões que explicam sua oposição à modernidade que a vê sob a ótica do secularism e do relativismo e for a do campo de influência do cristianismo que ajudou a formar a Europa.

8. A igreja vai mudar, em sua opinião, a doutrina sobre o uso de preservativos e em geral a moral sexual?

R/ A Igreja deverá manter as suas convicções, algumas que estima irrenunciáveis como a questão do aborto e da não manipulação da vida. Mas deveria renunciar ao status de exclusividade, como se fora a única portadora da verdade. Ele deve se entender dentro do espaço democrático, no qual sua voz se faz ouvir junto com outras vozes. E as respeita e até se dispõe a aprender delas. E quando derrotada em seus pontos de vista, deveria oferecer sua experiência e tradição para melhorar onde puder melhorar e tornar mais leve o peso da existência. No fundo ela precisa ser mais humana, humilde e ter mais fé, no sentido de não ter medo. O que se opõe à fé não é o ateismo, mas o medo. O medo paraliza e isola as pessoas das outras pessoas. A Igreja precisa caminhar junto com a humanidade, porque a humanidade é o verdadeiro Povo de Deus. Ela o mostra mais conscientemente mas não se apropria com exclusividade desta realidade.

9. O que um futuro Papa deveria fazer para evitar a emigração de tantos fiéis para outras igrejas, e especialmente pentecostais?

R/ Bento XVI freou a renovação da Igreja incentivada pelo Concílio Vaticano II. Ele não aceita que na Igreja haja rupturas. Assim que preferiu uma visão linear, reforçando a tradição. Ocorre que a tradição a partir do seéculo XVIII e XIX se opôs a todas as conquistas modernas, da democracia, da liberdade religiosa e outros direitos.Ele tentou reduzir a Igreja a uma fortaleza contra estas modernidades. E via no Vaticano II o cavalo de Tróia por onde elas poderiam entrar. Não negou o Vaticano II mas o interpretou à luz do Vaticano I que é todo centrado na figura do Papa com poder monárquico, absolutista e infalível. Assim se produziu uma grande centralização de tudo em Roma sob a direção do Papa que, coitado, tem que dirigir uma população católica do tamano da China.Tal opção trouxe grande conflito na Igreja até entre inteiros episcopados como o alemão e frances e contaminou a atmosfera interna da Igreja com suspeitas, criação de grupos, emigração de muitos católicos da comunidade e acusações de relativismo e magistério paralelo. Em outras palavras na Igreja não se vivia mais a fraternidade franca e aberta, um lar espiritual comum a todos. O perfil do próximo Papa, no meu entender, não deveria ser o de um homem do poder e da instituição. Onde há poder inexiste amor e desaparece a misericórdia. Deveria ser um pastor, próximo dos fiéis e de todos os seres humanos, pouco importa a sua situação moral, étnica e política. Deveria tomar como lema a frase de Jesus que já citei anteriormente: ”Se alguém vem a mim, eu não o mandarei embora”, pois acolhia a todos, desde uma prostituta como Madalena até um teólogo como Nicodemos. Não deveria ser um homem do Ocidente que já é visto como um acidente na história. Mas um homem do vasto mundo globalizado sentindo a paixão dos sofredores e o grito da Terra devastada pela voracidade consumista. Não deveria ser um homem de certezas mas alguém que estimulasse a todos a buscarem os melhores caminhos. Logicamente se orientaria pelo Evangelho mas sem espírito proselitista, com a consciência de que o Espírito chega sempre antes do missionário e o Verbo ilumina a todos que vem a este mundo, como diz o evangelista São João. Deveria ser um homem profundamente espiritual e aberto a todos os caminhos religiosos para juntos manterem viva a chama sagrada que existe em cada pessoa: a misteriosa presença de Deus. E por fim, um homem de profunda bondade, no estilo do Papa João XXIII, com ternura para com os humildes e com firmeza profética para denunciar quem promove a exploração e faz da violência e da guerra instrumentos de dominação dos outros e do mundo. Que nas negociações que os cardeais fazem no conclave e nas tensões das tendências, prevaleça um nome com semelhante perfil. Como age o Espírito Santo ai é mistério.Ele não tem outra voz e outra cabeça do que aquela dos cardeais. Que o Espírito não lhes falte.


Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/#ixzz2LFR4J1xi
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial Share Alike

domingo, 17 de fevereiro de 2013

PRONUNCIAMENTO DA CBB SOBRE DIVERSIDADE SEXUAL


C
onsiderando que as liberdades de consciência e religiosa são
princípios fundamentais garantidos pela Constituição (Art. 5º, IV,
VI e VIII), nós, Batistas da CBB, fundamentados no princípio de
liberdade religiosa, somos compelidos por nossa fé cristã a nos
pronunciar em defesa das citadas liberdades.
Consideramos ser nosso direito e dever apresentar este pronunciamento
à luz da verdade que é baseada na Bíblia, na razão (a qual, cremos ser um
dom de Deus) e na natureza da pessoa humana.  Ressalte-se que a Bíblia
Sagrada é nossa única regra de fé e prática, onde encontramos a verdade
revelada de Deus para a conduta humana. Assim, conclamamos cristãos e
não-cristãos a que ponderem e reflitam cuidadosa e criticamente nas questões
aqui apresentadas.
À luz dos §§ III e V do Art. 226 da Constituição Federal combinado com
o Art. 1514 do Código Civil Brasileiro, entendemos que o casamento se
restringe à união de um homem e uma mulher por natureza de nascimento.
A exemplo do Projeto de Lei Complementar 122/2006, o Estatuto da
Diversidade Sexual, entre outras coisas, tem como objetivo criminalizar
a homofobia (Art. 1º), assegurar casamento homoafetivo (Art. 15), proibir
tratamento e até mesmo promessa de cura a não-heterossexuais (Art. 53),
assegurar oportunidades de trabalho para os beneficentes do Estatuto (Art. 73
§ único), adotar políticas públicas em nível nacional, estadual e municipal
visando a conscientizar a sociedade da igual dignidade dos heterossexuais,
homossexuais, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros e
intersexuais (Art. 105).
Quanto à homofobia, somos contra qualquer tipo de discriminação,
desrespeito, abuso ou violência, seja ela contra quem for. Todavia, nos
reservamos o direito constitucional (liberdade religiosa) de discordar da
prática homossexual, por entender que é biblicamente pecaminosa e viola o padrão original de Deus para os seres humanos. O Antigo e o Novo
Testamento desaprovam severamente práticas homossexuais (Lv 18.22;
20.13; Is 3.9; Rm 1.24-27; 1 Co 6.9-10; 1 Tm 1.9-10). Consequentemente,
não aprovamos tais práticas.
Em relação ao chamado casamento homoafetivo, entendemos que
uniões legais amparam arranjos de pessoas do mesmo sexo que decidem estabelecer um relacionamento de união e que necessitem legar
herança, visitar companheiros em hospitais etc. Por outro lado, o matrimônio biblicamente instituído por Deus é uma união integral de corpo e
mente (Gn 2.18,23-24), baseado em um compromisso de permanência
e exclusividade entre o sexo masculino e o sexo feminino, e selado pelo
ato sexual. A Bíblia Sagrada apresenta a criação dos seres humanos em
dois sexos: “...homem e mulher os criou” (Gn 1.27). Tal criação visava
ao casamento, expresso em companheirismo, união sexual e procriação
(Gn 2.23-25). Jesus Cristo reiterou esta norma ao afirmar “que o Criador
desde o princípio os fez homem e mulher, e disse: Por esta causa deixará
o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma
só carne” (Mt 19.4-5). Esta união tem valor intrínseco, independente de
procriação. Todavia, se houver filhos, a união se aprofunda e enriquece.
Entendemos que o casamento, nos parâmetros bíblicos, salvaguarda os
interesses das crianças. Adicionalmente, cremos que é direito de toda
criança ter pai e mãe. Portanto, o Estado deve reconhecer e apoiar o
matrimônio. Não concordamos com a criação de um novo modelo de
casamento contrariando a Bíblia, a própria Constituição (Art. 226) e o Có-
digo Civil (Art. 1521). Por sinal, quebrada a normatividade do casamento
heterossexual, os mais diferentes modelos poderiam ser propostos, tais
como: casamento aberto, casamento incestuoso, casamento temporário,
casamento poligínico, casamento poliândrico etc. Ministros religiosos
não podem ser forçados a realizar e reconhecer uniões homoafetivas e
devem ser respeitados em seus direitos humanos.
No que se refere a proibir tratamento e até mesmo promessa de “cura” a
não heterossexuais, tem-se presentemente ampla evidência de pessoas que
foram homossexuais praticantes, e através de tratamento foram restauradas.
Portanto, tal proibição é um contrassenso. A Bíblia registra a restauração em
I Coríntios 6.9-11, “...Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem
adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, ... herdarão o reino de Deus.
Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas
fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso
Deus.” Consequentemente, defendemos que ministros religiosos e profissionais liberais devem ter assegurado o direito de ministrar tratamento a
homossexuais que assim o desejem.
No que diz respeito a assegurar oportunidades de trabalho para não-heterossexuais, entendemos que forçar empresas ou instituições a empregarem
pessoas cujo comportamento ou crenças são contrários à visão das citadas
organizações constitui violação constitucional.
Quanto a adotar políticas públicas em nível nacional, estadual e municipal visando a conscientizar a sociedade da igual dignidade dos heterossexuais, homossexuais, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros
e intersexuais; vale ressaltar que o termo “dignidade” pode fazer referência
a, pelo menos, duas coisas: (1) à dignidade intrínseca, fundamento dos
direitos humanos, absoluta e que todo ser humano possui simplesmente
por ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27); ou (2)
à dignidade moral, que não é absoluta, mas gradual, relativa ao comportamento moral de uma pessoa; ou seja, quanto mais os atos de um indivíduo
estiverem de acordo com o que é correto, maior a dignidade moral dessa
pessoa. De acordo com este último conceito, consideramos que todas
as práticas sexuais que se desviem do padrão bíblico são moralmente
deficientes. Promover políticas públicas que deixem subentendido que
todas as práticas sexuais são igualmente corretas e desejáveis, representa
absoluta contradição ao ensino bíblico relativo ao matrimônio, base da
família, célula mater do Estado. Somos contrários, portanto, a tais ações e
rejeitamos veementemente o art. 105, pois está sutilmente fazendo alusão
a esse último conceito de “dignidade”.
Finalmente, rejeitamos qualquer instrumento de coerção que nos force
a concordar com práticas inconstitucionais e antibíblicas. Por sinal, vale
enfatizar que esse Estatuto é inconstitucional, ilegal, heterofóbico e cristofóbico. Sabemos que quando os poderes terreno e divino colidem, nossa
obrigação é “obedecer a Deus, e não a seres humanos” (At 5.29). Portanto,
nenhum poder na terra — seja cultural ou político — nos forçará ao silêncio
ou à acomodação.
Comissão de Altos Estudos da Convenção Batista Brasileira,
Pr. Dr. David Bowman Riker, relator.
Aracajú (SE), 29 de Janeiro de 2013.

domingo, 13 de janeiro de 2013

OS PAIS DA IGREJA: UMA PORTA PARA ROMA

OS PAIS DA IGREJA: UMA PORTA PARA ROMA
Por David Cloud

Muitas pessoas têm entrado na Igreja Católica Romana através da larga porta dos "pais da Igreja", e este artigo é uma sonora advertência para os dias de hoje, quando há uma difundida atração para os "pais da Igreja" dentro do evangelicalismo.

Os ministros apologéticos católicos usam os "pais da Igreja" para provar que as doutrinas de Roma remontam aos primeiros séculos. No livro Born Fundamentalist, Born Again Catholic (Nascido Fundamentalista, Nascido Novamente Católico), David Currie continuamente usa os pais da Igreja para apoiar a sua posição. Ele diz, "O outro grupo de autores a quem os evangélicos deveriam ler... são os primeiros pais da Igreja" (pág. 4).

O “movimento de oração contemplativa” é construído sobre esta mesma fundação fraca. O falecido Robert Webber, professor do Wheaton College, era um dos principais patrocinadores deste movimento de volta para os "pais da Igreja", e ele disse:

"Os primeiros pais podem nos levar de volta ao que é comum e nos ajudar a nos alinharmos [todos] atrás das várias tradições que foram deixadas para trás... Aqui é onde está nossa unidade. ... evangélicos precisam ir além de [meramente] falar sobre a unidade da igreja, e experimentar isto através de uma atitude de aceitação da igreja como um todo e uma entrada em diálogo com o [católico grego] ortodoxo, com o católico [romano], e com outros corpos protestantes" (Ancient-Future Faith, 1999, p. 89).

O fato é que a maioria dos "primeiros pais" foi herética!

Esta expressão [“pais da Igreja”] se refere a vários líderes de igrejas dos primeiros séculos depois dos apóstolos, [líderes] que tiveram seus escritos preservados.

Os únicos “pais da Igreja” genuínos são os apóstolos e profetas, aqueles cujos escritos foram dados por divina inspiração e registrados na Santa Escritura. Eles nos deram a “...fé que uma vez foi dada aos santos.” (Jd 1:3). A fé [todo o corpo de doutrinas]  que eles entregaram pode nos fazer “... perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2Tm 3:16-17). Nós não precisamos de nada além da Bíblia. O ensino dos "pais de igreja" não contém um jota ou til de revelação divina.

O termo "pais da Igreja" é uma designação incorreta que foi derivada da falsa doutrina (da Igreja Católica Romana) de sistema hierárquico de igreja. Aqueles homens não foram os "pais" da Igreja em nenhum sentido bíblico, e não tiveram nenhuma autoridade divina. Eles somente eram os líderes de igrejas de vários lugares que deixaram um registro de sua fé [fé, tanto no sentido de total confiar pessoal, como no sentido de corpo de doutrinas crida e pregada e praticada]. Mas a Igreja Católica Romana os exaltou a um nível de autoridade além dos limites designados pela Bíblia, transformando-os em "pais" sobre as igrejas localizadas dentro de regiões inteiras e sobre as igrejas do mundo inteiro.

Os “pais da Igreja” estão agrupados em quatro divisões:
- pais apostólicos (segundo século),
- pais ante-nicenos (segundo e terceiro séculos),
- pais nicenos (quarto século) e
- pais pós-nicenos (quinto século).

Nicenos refere-se ao Concílio de Nicéia em 325, o qual debateu a questão do arianismo e afirmou a doutrina da deidade de Cristo. Portanto, os pais ante-nicenos são assim chamados porque viveram no século anterior a este concílio, e os pais pós-nicenos são assim chamados porque viveram no século seguinte a tal concílio.

Todos os "pais de igreja" foram infetados com alguma falsa doutrina, e a maioria deles foi seriamente infectada. Até mesmo os denominados pais apostólicos do segundo século estavam ensinando o falso evangelho que o batismo, o celibato, e o martírio proveriam perdão de pecados (Howard Vos, Exploring Church History, pág. 12). E, a respeito dos "pais" posteriores, -- Clemente, Orígenes, Cirilo, Jerônimo, Ambrósio, Agostinho, Teodoro, e João Crisóstomo -- o mesmo historiador admite: "Nas suas vidas e ensinos, achamos a semente de quase tudo aquilo que surgiu depois. Em forma de semente aparecem os dogmas do purgatório, transubstanciação, mediação sacerdotal, regeneração batismal, e o inteiro sistema sacramental" (Vos, pág. 25).

De fato, um dos pais pós-nicenos é Leão, o Grande, o primeiro papa católico romano!

Portanto, os "pais de igreja" são de fato os pais da Igreja Católica Romana. Eles são os homens que puseram o fundamento da apostasia que produziu o Romanismo e a Ortodoxia grega.

Os escritos do Novo Testamento freqüentemente advertem que haveria uma apostasia, um abandono da fé [todo o corpo de doutrinas]  entre os cristãos professos. Os apóstolos e profetas disseram que esta apostasia já tinha começado nos seus dias e tinham advertido que elas [a apostasia e o abandono da fé [todo o corpo de doutrinas] ] aumentariam à medida que o tempo do retorno de Cristo ficasse mais próximo.

Paulo testemunhou disto em muitos lugares, dando um vislumbre da investida maligna que já estava infestando a obra de Deus. Considere a última mensagem dele aos pastores em Éfeso (Atos 20:29-30). Paulo os advertiu que aqueles falsos mestres viriam de fora e também surgiriam de dentro de seus próprios grupos. Considere a segunda epístola dele para Corinto (2 Cor. 11:1-4, 12-15). Os falsos mestres eram ativos em Corinto e estavam corrompendo três das doutrinas cardeais da fé [todo o corpo de doutrinas] NeoTestamentária: a doutrina a respeito de Cristo, a doutrina a respeito da salvação, e a doutrina a respeito do Espírito Santo; e as igrejas estavam em perigo de ser subvertidas por estes erros. Considere as advertências de Paulo a Timóteo em 1 Tm 4:1-6 e 2 Tm 3:1-13 e 4:3-4. “29 Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; 30 E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si.” (At 20:29-30)


“1 QUISERA eu me suportásseis um pouco na minha loucura! Suportai-me, porém, ainda. 2 Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo. 3 Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo. 4 Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis.” (2Co 11:1-4)

“12 Mas o que eu faço o farei, para cortar ocasião aos que buscam ocasião, a fim de que, naquilo em que se gloriam, sejam achados assim como nós. 13 Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. 14 E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. 15 Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras.” (2Co 11:12-15)

“1 MAS o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; 2 Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; 3 Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; 4 Porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças. 5 Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada. 6  Propondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Jesus Cristo, criado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido.” (1Tm 4:1-6)

“1 SABE, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. 2 Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, 3 Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, 4 Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, 5 Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. 6 Porque deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências; 7 Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade. 8 E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé. 9 Não irão, porém, avante; porque a todos será manifesto o seu desvario, como também o foi o daqueles. 10  Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência, 11 Perseguições e aflições tais quais me aconteceram em Antioquia, em Icônio, e em Listra; quantas perseguições sofri, e o SENHOR de todas me livrou; 12 E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições. 13 Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados.” (2Tm 3:1-13)

“3 Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; 4 E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” (2Tm 4:3-4)


Pedro dedicou o inteiro segundo capítulo da sua segunda epístola a este tema. Ele advertiu no verso um que haveria falsos mestres que introduziriam "heresias de perdição", referindo-se a heresias que negam a condenação da alma ao inferno eterno. Por exemplo, se alguém nega o nascimento virginal, a deidade, a [perfeita] humanidade, a impecabilidade, a eternidade, a expiação, ou a ressurreição de Jesus Cristo, não pode ser salvo. Heresias relativas a esses assuntos são heresias que condenam [ao inferno]. A corrupção da "doutrina a respeito de [e dada por] Cristo" resulta em um "falso Cristo."

João fornece alerta semelhante em suas epístolas (1João 2:18, 19, 22; 4:1-3; 2João 7-11).

“18 Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora. 19 Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós.” (1Jo 2:18-19)

“Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho.” (1Jo 2:22 ACF)

“1 AMADOS, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. 2 Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; 3 E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo.” (1Jo 4:1-3)

“7  Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo. 8 Olhai por vós mesmos, para que não percamos o que temos ganho, antes recebamos o inteiro galardão. 9 Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho. 10  Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. 11 Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras.” (2Jo 1:7-11)


Dirigindo-se às sete igrejas em Apocalipse 2-3, o Senhor Jesus Cristo advertiu que muitas das igrejas apostólicas já eram fracas e estavam sob severa pressão por ataques heréticos (Ap. 2:6, 14-15, 20-24; 3:2, 15-17).

“Tens, porém, isto: que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio.” (Ap 2:6 ACF)

“14 Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem. 15 Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu odeio.” (Ap 2:14-15)

“20 Mas tenho contra ti que toleras Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos, para que se prostituam e comam dos sacrifícios da idolatria. 21 E dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua prostituição; e não se arrependeu. 22 Eis que a porei numa cama, e sobre os que adulteram com ela virá grande tribulação, se não se arrependerem das suas obras. 23 E ferirei de morte a seus filhos, e todas as igrejas saberão que eu sou aquele que sonda os rins e os corações. E darei a cada um de vós segundo as vossas obras. 24 Mas eu vos digo a vós, e aos restantes que estão em Tiatira, a todos quantos não têm esta doutrina, e não conheceram, como dizem, as profundezas de Satanás, que outra carga vos não porei.” (Ap 2:20-24)

“Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam para morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus.” (Ap 3:)

“15 Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! 16 Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. 17 Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;” (Ap 3:15-17)

Assim, nos dias dos apóstolos, a fé [todo o corpo de doutrinas] do Novo Testamento estava sendo atacada por todos os lados pelo gnosticismo, judaísmo, nicolaitismo, e outras heresias.

E os apóstolos e profetas alertaram que essa apostasia deveria aumentar.

Paulo disse, “Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados.” (2Tm 3:13). Isto descreve o curso da era da Igreja em termos da expansão da heresia!

Então, não é surpreendente achar erros doutrinários prevalecendo entre as igrejas dos primeiros séculos.

Ademais, temos somente um registro muito parcial dos primeiros séculos, e os escritos sobreviventes foram severamente filtrados por Roma. A Igreja Católica Romana esteve no poder por um milênio inteiro, e sua Inquisição alcançou os cantos mais distantes de Europa e além. Roma fez tudo em seu poder para destruir os escritos daqueles que divergiam dela. Considere os valdenses. Estes cristãos (que viveram no norte da Itália e no sul da França e em outros lugares, durante a Idade Média) foram cruelmente perseguidos por Roma durante séculos. Embora saibamos que os valdenses têm uma história que começa no 11º século senão antes dele, o registro histórico deles quase foi destruído completamente por Roma. Só um punhado de todos os escritos valdenses foi preservado, sobreviveu durante todos esses séculos.

Então, não é surpreendente que os escritos dos primeiros séculos que sobreviveram às perseguições e chegaram às nossas mãos no presente tempo sejam, na sua grande maioria, simpáticos às doutrinas de Roma. Isto não prova que a maioria das igrejas teve então a doutrina católica romana. Somente prova que esses escritos simpatizantes para com Roma foram permitidos sobreviver. Nós sabemos que muitas igrejas que existiram nesses primeiros séculos não concordaram com a doutrina romana, porque eles foram perseguidos pelos romanistas e são mencionados nos escritos dos "pais de igreja."

UM OLHAR EM ALGUNS DOS PAIS DA IGREJA
Inácio (cerca do ano 50 – 110 d.C)
Inácio foi o bispo de Antioquia no começo do segundo século. Ele foi preso aproximadamente no ano 110 e foi enviado para Roma para ser julgado e martirizado.

1. Ele ensinou que [um conjunto de] igrejas [em uma região geográfica] deveria ter [vários] anciãos e um [só] bispo governante [sobre todos]; em outras palavras, ele estava exaltando um bispo acima de outro, enquanto que, na Escritura, os termos "bispo" e "ancião" referem-se à mesma condição e ao mesmo humilde ofício dentro da assembléia (Tito 1:5-7).
2. Ele ensinava que todas as igrejas são parte de uma igreja universal.
3. Ele afirmou que uma igreja não tem autoridade para batizar ou conduzir a ceia do Senhor a menos que tenha um bispo.

Estes relativamente inocentes erros ajudaram a preparar o caminho para mais erros no século seguinte.

Justino, o Mártir (cerca do ano 100 – cerca do ano 165 d.C)
Quando Justino abraçou o cristianismo, ele manteve algumas das filosofias pagãs em que ele já cria.
1. Ele interpretou as Escrituras alegoricamente e misticamente.
2. Ele ajudou a desenvolver a idéia de um “estado intermediário” após a morte, o qual não seria céu nem inferno. Posteriormente, essa doutrina tornou-se naquela do purgatório, da Igreja Católica Romana.

Irineu (125-202 d.C)

Irineu foi pastor em Lion, França, e deixou um polêmico escrito intitulado Contra as Heresias, por volta do ano 185.

1. Ele apoiou a autoridade dos bispos, [cada um] como dominador sobre [várias] igrejas.
2. Ele defendeu a tradição da igreja acima das Escrituras. Por essa razão ele é declarado pela Igreja Católica como um dos que a ela pertencem.
3. Ele ensinou a heresia católica da “presença viva” dizendo: “A Eucaristia torna-se o corpo de Cristo.”

Clemente de Alexandria (150-230 d.C)

1. Clemente liderou a alegorizante escola de Alexandria, desde 190 a 202. Esta escola foi fundada por Pantaenus.
2. Clemente misturou intimamente a filosofia de Platão com o cristianismo.
3. Ele ajudou a desenvolver a doutrina do purgatório, e acreditava que [praticamente] todo homem eventualmente seria salvo.

Tertuliano (155 – 255 d.C)

Tertuliano viveu em Cartago, no norte da África (localizada na costa do Mar Mediterrâneo na moderna Tunísia, entre a Líbia e a Argélia).

1. Embora lutasse contra o gnosticismo, ele também exaltou a autoridade da igreja acima daquilo que é reconhecido na Bíblia. Ele ensinou que a autoridade da igreja vem através de sucessão apostólica
2. Ele acreditava que o pão da ceia do Senhor era Cristo [física, corporal, literalmente], e preocupa-se sobremodo acerca das migalhas que caíam ao chão.
3. Ele adotou o montanismo, crendo que Montano proclamava profecias por inspiração de Deus.
4. Ele ensinou que viúvas que recasassem cometeriam fornicação.
5. Ele ensinou que o batismo é [essencial] para o perdão de pecados.
6. Ele classificou os pecados em três categorias, e creu na confissão de pecados aos clérigos.
7. Ele disse que a alma humana foi vista, em uma visão, como sendo “suave, luminosa e da cor do ar”. Ele afirmou que todas as almas humanas estavam em Adão [já formadas, diferenciadas] e foram transmitidas para nós com a mancha do pecado original que estava sobre ele.
8. Ele ensinou que houve um tempo em que o Filho de Deus não existiu e, neste tempo, Deus não era um Pai.
9. Ele ensinou que Maria foi a segunda Eva e que, por sua obediência, redimiu a desobediência da primeira Eva.


Cipriano (? – 258 d.C)

Cipriano foi bispo de Cartago na África.

1. Ele era tirânico e abastado, e escreveu contra as igrejas novacianas por causa dos esforços delas para manterem a membresia da igreja pura.
2. Cipriano defendeu a doutrina antibíblica que certos [pastores, a saber, os] bispos, teriam autoridade sobre outras igrejas, e que todos os pastores [dessas igrejas inferiores] deveriam se submeter a ele.
3. Ele apoiou a heresia do batismo infantil.

Não é de se admirar que a Igreja Católica o fez um dos seus “santos”.

Orígenes (185-254)

Embora sofresse perseguição e tortura pela causa de Cristo, sob o imperador Décio, no ano de 250, Orígenes era cheio de falsos ensinos. O caráter de Orígenes é descrito pelo historiador luterano Mosheim como "uma combinação de contrários: sábio e imprudente; perspicaz e estúpido; criterioso e precipitado; inimigo da superstição, e seu protetor; defensor vigoroso do cristianismo, e seu corruptor; enérgico e irresoluto; a quem a Bíblia deve muito, e de quem sofreu muito." Não concordamos que a Bíblia deve alguma coisa a  Orígenes, mas não há nenhuma dúvida que sofreu muito em suas mãos. Seguem algumas estranhas doutrinas de Orígenes:

1. Ele negou a infalível inspiração das Escrituras.
2. Ele rejeitou a historicidade literal dos primeiros capítulos de Gênesis, e do diabo levando Jesus para uma alta montanha e lhe oferecendo os reinos do mundo (Will Durant, The Story of Civilization, Vol. III, p. 614). Durant cita Orígenes: "Quem é tão tolo para acreditar que Deus, como um agricultor, plantou um jardim no Éden, e colocou nele uma árvore de vida... de forma que alguém que provou da fruta obteve conhecimento do bem e do mal? "
3. Ele aceitou o batismo infantil.
4. Ele ensinou a regeneração batismal e a salvação pelas obras. “Após estes pontos, é ensinado também que a alma, tendo substância e vida própria em si mesma, deve, após sua partida deste mundo, ser recompensada de acordo com seus méritos. É destinada para ou obter uma herança de vida eterna e bem-aventurança, se suas ações tiverem almejado isto, ou ser entregue ao castigo e fogo eterno, se a culpa de seus crimes a tiver trazido a isto" (Orígenes, citado por W.A. Jurgens, The Faith of the Early Fathers).
5. Ele acreditava que o Espírito Santo era possivelmente algum tipo de ser criado. "No caso dEle [do Espírito Santo], não podemos distinguir claramente se Ele [o Espírito Santo] nasceu ou não, ou mesmo se Ele deve ou não deve ser considerado como um Filho de Deus" (Orígenes, citado por W.A. Jurgens, The Faith of the Early Fathers).
6. Ele acreditou em uma forma de purgatório e em universalismo, negando o fogo literal do inferno e crendo que o diabo da mesma maneira poderia eventualmente ser salvo. “Agora deixe-nos ver qual é o significado da ameaça com fogo eterno. ... Parece estar indicado por estas palavras que todo pecador acende para si próprio a chama do fogo e não é lançado em fogo que foi acendido anteriormente por outra pessoa ou que já existiu antes dele. ... E quando esta dissolução e violenta separação da alma terão sido completados por meio da aplicação do fogo, sem nenhuma dúvida será posteriormente solidificado em uma estrutura mais firme e em uma restauração de si mesma” (Orígenes, citado por W.A. Jurgens, The Faith of the Early Fathers).
7. Ele acreditava que as almas dos homens são pré-existentes e que estrelas e planetas possivelmente têm almas. "Porém, com respeito ao sol, e a lua e as estrelas, se eles são seres vivos ou estão sem vida, não há nenhuma tradição clara" (Orígenes, citado por W.A. Jurgens, The Faith of the Early Fathers).
8. Ele acreditava que Jesus foi um ser criado e não um ser eterno. "Ele teve uma visão aberrante a respeito da natureza de Cristo, [visão esta] que deu origem à posterior heresia de Ariano " (Encyclopedia of Christian Apologetics, "Origen"). Que Orígenes acreditou que Jesus Cristo teve uma origem é evidente nesta declaração: "Secundariamente, aquele Jesus Cristo, que veio, nasceu do Pai antes de todas as criaturas; e, depois disso, Ele serviu ao Pai na criação de todas as coisas -- porque, por intermédio dEle [de Cristo], todas as coisas foram feitas" (Orígenes, citado por W.A. Jurgens, The Faith of the Early Fathers).
9. Ele negou a ressurreição do corpo, afirmando que ele é esférico, imaterial e não possui os membros. “Ele negou a tangível natureza física do corpo ressurreto, em claro contraste com o ensino das Escrituras” (Encyclopedia of Christian Apologetics, “Origen”)”. Devido a esse ensino, ele [Orígenes] foi condenado pelo Concílio de Constantinopla.
10. Ele alegorizou o ensino da Bíblia dizendo: “As Escrituras têm pouca utilidade para esses que a conhecem literalmente.” Nisto ele foi um dos pais do herético método amilenarista de interpretação profética, o qual foi ainda mais desenvolvido por Agostinho e mais tarde adotado pela Igreja Católica Romana. Isso destrói as doutrinas apostólicas da iminência do retorno de Cristo (Mt. 24:42, 44; 25:13; Mc. 13:33), e da tribulação literal, e do reino milenar. Também anulou o cumprimento literal das promessas de Deus para Israel, e preparou o palco para os séculos de perseguição aos judeus pela Igreja Católica Romana.


Eusébio de Cesarea (270-340)

1. Eusébio ajuntou uma coleção dos escritos de Orígenes e promoveu seus ensinos cheios de erros: “Sempre que existe prova de que Orígenes e sua escola deterioraram a corretude do texto [da Bíblia], na mesma extensão fica claro que Eusébio aceitou e perpetuou aquele malefício [à Bíblia]” (Discussions, de Robert Lewis Dabney, I, p. 387).
2. Constantino o Grande, que uniu igreja e estado no império romano (e que, portanto, lançou os fundamentos para o estabelecimento da Igreja Católica Romana) contratou Eusébio para produzir alguns Novos Testamentos em grego. Frederick Nolan e outras autoridades têm denunciado Eusébio por ter [propositadamente] produzido muitas adulterações no texto da Escritura. “Tal como é aparente que Eusébio não desejava o poder, do mesmo modo pode ser mostrado que ele tinha o desejo e propósito de fazer aquelas adulterações no texto sagrado das quais eu tenho ousado acusá-lo.” (Nolan, Inquiry into the Integrity of the Greek Vulgate, p. 35).
3. Muitas das [mais] notadas omissões nas modernas versões [da Bíblia] podem ser rastreadas retroativamente até este período, inclusive [as omissões de] Marcos 16:9-20 e João 8:1-11. Depois de intensiva investigação, Frederick Nolan concluiu que Eusébio [propositadamente] “suprimiu aquelas passagens em sua edição.” (Nolan, p. 240). De fato, muitas autoridades textuais têm identificado Vaticanus e Sinaiticus, os manuscritos tão reverenciados pelos modernos críticos textuais, como duas cópias do Novo Testamento em grego feito por Eusébio. Esses manuscritos [de Eusébio] também continham os espúrios escritos apócrifos “Pastor de Hermas” e “Epístola de Barnabás”. Orígenes tinha considerado Escritura canônica estes livros não inspirados e fantasiosos (Goodspeed, The Formation of the New Testament, p. 103).

Jerônimo (340 – 420 d.C)

Jerônimo foi chamado por Damasus, bispo de Roma, para produzir uma Bíblia [a ser adotada como] padrão em latim. Ela foi completada entre os anos de 383 e 405, e se tornou a Bíblia adotada pela Igreja Católica. Ela é comumente chamada de Vulgata Latina (vulgata significando comum). O moderno crítico textual Bruce Metzger diz que os manuscritos gregos usados por Jerônimo “aparentemente pertenceram ao mesmo tipo de texto Alexandrino” (Metzger, The Text of the New Testament, p. 76). Isso significa que eram da mesma família a qual pertencem as versões modernas. Kenion e Robinson também afirmam isso (Kenyon, The Text of the Greek Bible, p. 88; Robinson, Ancient Versions of the English Bible, p. 113). Essas versões comumente removem “Deus” de I Timóteo 3:16 e contém muitas outras corrupções. Jerônimo foi profundamente infectado com falsos ensinos:

1. Jerônimo seguiu os falsos ensinos do ascetismo, crendo que o estado de celibato era espiritualmente superior ao do casamento. Ele [Jerônimo] exigia que os líderes de igrejas não se casassem. James Heron, autor de The Evolution of Latin Christianity (“A Evolução do Cristianismo Latino”), observou que “nenhum indivíduo sozinho fez tanto [quanto Jerônimo] para fazer o monasticismo popular nos mais altos graus da sociedade” (Heron, 1919, p. 58).
2. Jerônimo acreditava na veneração de “relíquias sagradas” e de ossos de cristãos mortos (Heron, pp. 276, 77).
3. Jerônimo “desempenhou um papel de liderança e muita influência em ‘abrir as comportas para a prece aos santos’, ensinando “distinta e enfaticamente que os santos no céu ouvem as orações dos homens na terra, intercedem por eles, e lhes enviam ajuda do céu” (Heron, pp. 287, 88).
4. Jerônimo ensinou que Maria foi a contraparte de Eva, do mesmo modo que Cristo foi a contraparte de Adão; e que, através de sua obediência, Maria tornou-se instrumento de auxílio para redenção da raça humana (Heron, p. 294). Ele também ensinou que Maria foi perpetuamente virgem (Heron, pp. 294, 95).
5. Jerônimo acreditava na água benta (Heron, p. 306).
6. “Jerônimo justificou a morte como penalidade para ‘heréticos’ ” (Heron, The Evolution of Latin Christianity, p. 323).

O espírito e caráter de Jerônimo é descrito, até mesmo por um historiador que teve grande respeito por ele, com estas palavras: “tal irritabilidade e amargura de temperamento, tal veemência de paixão descontrolada, tal intolerância e espírito perseguidor, e tal inconstância de conduta” (Schaff, History of the Christian Church, III, p. 206).

É óbvio que Jerônimo tinha absorvido muitas dos falsos ensinos e atitudes que eventualmente se tornaram os entrincheirados dogmas e práticas da Igreja católica romana.


Ambrósio (339-397)

Ambrósio foi bispo de Milão, Itália, entre 374-397. Por causa de sua grande dedicação a muitas das primeiras heresias doutrinárias, seus escritos tiveram aceitação pelos papas em concílios católicos. Ambrósio teve uma forte influência sobre Agostinho. A Igreja Católica o fez um santo e um doutor da igreja.

1. Ambrósio usou o método alegórico-místico de interpretação da Bíblia, tendo sido influenciado por Orígenes e Filo.
2. Ele ensinou que os cristãos devem ser devotos de Maria, encorajou o monasticismo, e creu nas preces dirigidas aos santos
3. Ele acreditava que a igreja tem o poder para perdoar pecados.
4. Ele acreditava que a ceia do Senhor é um sacrificar ao Cristo.
5. Ele ensinou que a virgindade é mais santa que o casamento. E, sempre que possível, encorajou jovens mulheres a não casarem. Seu ensino sobre isso ajudou a pavimentar o caminho para o sistema monástico católico.
6. Ele ofereceu preces dirigidas aos mortos.

Agostinho (354-430)

Agostinho foi contaminado com muitas falsas doutrinas e ajudou a lançar o fundamento para a formação da Igreja Católica Romana. Por esta razão Roma lhe presta honraria como um dos “doutores da Igreja”.

1. Ele foi um perseguidor e o pai da doutrina da perseguição na Igreja Católica.

O historiador Neander observou que os ensinos de Agostinho “continham a semente de um sistema completo de despotismo espiritual, intolerância e perseguição, chegando a igualar a corte da Inquisição.” Agostinho instigou perseguições contra crentes donatistas que estavam lutando para manter as igrejas puras após a era apostólica. Ele interpretou Lucas 14:23 (“força-os a entrar”) como significando que Cristo requeria que as igrejas usassem a força contra os heréticos.

2. Ele foi o pai do amilenarismo, alegorizando a profecia bíblica, e ensinando que a Igreja Católica é o Reino de Deus.
3. Ele ensinou que os sacramentos são um meio de salvação
4. Ele foi um dos pais do batismo infantil. O ‘concílio’ de Mela, na Numídia, em 416 d.C, composto de meramente quinze pessoas e presidido pelo próprio Agostinho, decretou: “Igualmente, esse é o desejo- ordem bispos: que qualquer que negar que infantes recém nascidos de suas mães devem ser batizados, ou que disser que o batismo é administrado para remissão de seus próprios pecados mas não por causa do pecado original passado desde Adão e a ser expiado pela pia [batismal] da regeneração, seja MALDITO”.
5. Ele ensinou que Maria nunca cometeu nenhum pecado, e promoveu sua adoração. Ele acreditava que Maria representava uma vital papel na salvação (Agostinho, Sermon 289, citado in Durant, The Story of Civilization, 1950, IV, p. 69).
6. Ele acreditava no purgatório.
7. Ele aceitou a doutrina do “celibato” para “padres”, apoiando o decreto do “Papa” Siricius de 387, o qual ordenou que qualquer padre que casasse ou recusasse se separar de sua esposa deveria ser disciplinado.
8. Ele exaltou a autoridade da igreja sobre a Bíblia, declarando, “eu não creria no evangelho a não ser que eu fosse movido a fazer assim pela autoridade da Igreja Católica” (citado pelo Papa João Paulo II, Augustineum Hyponensem, Apostolic Letter, Aug. 28, 1986, www.cin.org/jp2.ency/augustin.html ).
9. Ele acreditava que a verdadeira interpretação das Escrituras foi derivada da declaração dos concílios da Igreja (Agostinho, De Vera Religione, xxiv, p. 45).
10. Ele interpretou os primeiros capítulos de Gênesis figuradamente (Dave Hunt, "Calvin and Augustine: Two Jonahs Who Sink the Ship," em “Debating Calvinism: Five Points, Two Views, por Dave Hunt e James White”, 2004, p. 230).
11. Ele ensinou que Deus pré-ordenou alguns para salvação e outros para condenação, e que a graça de Deus é irresistível para o verdadeiro eleito. O próprio Calvino admitiu, no século 16, que ele derivou sua teologia TULIP de “A Soberania de Deus” de Agostinho. Ele disse: “Se eu fosse inclinado a compilar um volume completo de Agostinho, eu poderia facilmente mostrar a meus leitores que eu não necessito de nenhuma palavra [minha], mas somente das dele [de Agostinho].” (Calvin, Institutes of the Christian Religion, Livro III, Cap. 22).
12. Ele ensinou a heresia da sucessão apostólica desde Pedro (Hunt, ibid., p. 230).

João Crisóstomo (347-407)
Crisóstomo foi um líder em Antioquia, na parte grega que está separada da Igreja Católica de hoje, e ele tornou-se “patriarca” de Constantinopla no ano 398.

1. Ele acreditava na “real presença” [células de carne e olhos e hemácias e leucócitos e ossos etc., de Cristo] na missa; que o pão literalmente tornar-se-ia Jesus Cristo.
2. Ele ensinou que a tradição da igreja pode estar em mesmo nível de autoridade que as Escrituras.

Cirilo (376-444)

Cirilo foi o “patriarca” de Alexandria e apoiou muitos erros que levaram à formação da Igreja Católica.

1. Ele promoveu a veneração a Maria e a chamou de “Theotokos”, isto é, aquela que deu à luz Deus [deu-lhe existência].
2. Em 412, Cirilo instigou a perseguição contra os cristãos donatistas.

UM ALERTA DO PODER DOS PAIS DA IGREJA EM LEVAR A ROMA

Tendo visto algumas das heresias que fermentaram os “pais da Igreja”, não é surpreendente que um estudo não-crítico de seus escritos possa levar a Roma. É para lá que todos eles [os “pais da Igreja”] encaminhavam! E nós temos somente olhado para os mais doutrinariamente corretos dos “pais da Igreja.”!

No século 19, JOHN HENRY NEWMAN (1801-1890) caminhou para dentro da Igreja Católica Romana através da porta dos pais da Igreja. Newman, um sacerdote anglicano e um dos líderes do Movimento Oxford na Igreja da Inglaterra, é um dos mais famosos protestantes convertidos a Roma. Ele disse que dois dos fatores de sua conversão foram sua fascinação com os pais da Igreja e seu estudo da vida dos “santos ingleses”, referindo-se aos místicos católicos tais como Joan de Norwich. Ele [Newman] se converteu a Roma em 1845, e foi feito cardeal pelo papa Leão XIII em 1879. Nos últimos dias muitos estão seguindo a conduta de Newman.

SCOTT E KIMBERLY HAHN, presbiterianos que se juntaram à Igreja Católica Romana, foram influenciados pelos pais da Igreja. Em sua influente autobiografia, Rome Sweet Rome, (“Roma, Doce Roma”), Kimberly recorda como Scott estudou os “pais da Igreja” quando ele ainda era um ministro presbiteriano. “Scott ganhou muita compreensão a respeito dos primeiros pais da Igreja, alguns dos quais ele usou em seus sermões. Isso foi muito inesperado para nós, porque quase nunca tínhamos lido sobre os primeiros pais da Igreja, quando estávamos no seminário. De fato, em nosso último ano nós tínhamos reclamado em alto e bom som para amigos contra uma possível infiltração do Romanismo, quando um curso a respeito dos primeiros pais da Igreja foi oferecido por um sacerdote anglicano. Porém, aqui estava Scott citando tais pais em seus sermões! Uma noite Scott veio de seu estudo e disse: ‘Kimberly, eu tenho que ser honesto. Eu não sei por quanto tempo nós ainda estaremos sendo presbiterianos. Nós deveríamos nos tornar Episcopalianos.” (Rome Sweet Rome, p. 56).

De fato, eles se tornaram católicos romanos, e a influência dos “pais da Igreja” na decisão deles é óbvia.

Em 1985, THOMAS HOWARD veio a se tornar outro famoso protestante que se converteu a Roma. Em 1984, em seu livro, Evangelical Is Not Enough, (“[Ser] Evangélico Não É o Bastante”), Howard conclamou os evangélicos a estudarem os pais da Igreja. Howard foi professor no Gordon College por quinze anos, e é de uma proeminente família de evangélicos. Seu pai, Philip, foi editor do Sunday School Times; seu irmão David Howard foi líder da World Evangelical Fellowship; e sua irmã Elisabeth casou-se com o famoso missionário Jim Elliot, que foi martirizado pelos índios Auca no Equador.

Os livros Surprised by Truth (“Surpreendido pela Verdade”), editado por Patrick Madrid, e The Road to Rome (“A Estrada para Roma”), editado por Dwight Longenecker, e Journeys Home (“Jornadas [de Regresso] ao Lar”), editado por Marcus Grod, contêm muitos exemplos desse fenômeno. Um dos testemunhos é de SHARON MANN, que diz:

“Eu comecei a ler os primeiros pais da Igreja e compreendi o que qualquer um deles cria: eles seguramente não eram protestantes. Temas católicos apimentam as vistas da história da igreja. Eu não posso negar isso...” (Journeys Home, 1997, p. 88).

Isso é verdade, é claro. Temas católicos apimentam a paisagem dos “pais da Igreja”. O que ela deveria ter entendido é que eles [os “pais”] não eram doutrinariamente sadios, e absolutamente não tinham [nenhuma] autoridade. Por tudo o que eles [os “pais da Igreja”] foram, não podem ser nossos exemplos e guias. Ela [Sharon Mann] deveria os ter comparado com a infalível verdade da Bíblia, e deveria os ter rejeitado como heréticos.

Ao invés disso, ela permitiu aos “pais da Igreja” atiçarem sua curiosidade sobre o Catolicismo Romano, e foi acabar em uma missa. Nesse lugar, ela teve uma poderosa experiência emocional quando a multidão se ajoelhou para idolatricamente “adorar” a sagrada hóstia em seu cortejo na “custódia”. Ela começou a chorar e sua garganta ficou apertada. Ela disse:

“Se o Senhor estava verdadeiramente passando tão perto, então eu anelava adorá-lo e venerá-lo, mas se Ele não estivesse verdadeiramente passando eu temeria ser idólatra. Naquele fim de semana tive uma poderosa impressão sobre meu coração, e encontrei a mim mesma em falta de bons argumentos para permanecer protestante. Meu coração anelava que eu me tornasse católica e fosse restaurada à unidade com toda a cristandade.” (Journeys Home, p. 89).

Quando ela fala à respeito do Senhor passando próximo, ela se refere à doutrina católica que a bolacha ou hóstia da missa torna-se o real corpo e sangue de Jesus quando ela é abençoada pelo padre e, depois disso, ela é adorada como o próprio Jesus. Seguindo-se à missa, a hóstia é colocada em uma caixa chamada tabernáculo e os católicos rezam a ela. A hóstia é o Jesus católico.

Roger Oakland descreve uma experiência que teve em Roma na festa de Corpus Christi quando o papa Bento XVI a celebrou na basílica da Catedral de Maria:

“Finalmente, depois de eu ter estado quase três horas de pé esperando, o papa e seu séqüito chegaram. O papa estava carregando o Jesus Eucarístico na custódia. Cedo do dia, durante a missa na basílica de São Pedro, esse Jesus foi transportado para a basílica de São João, para outra cerimônia. Finalmente, para o final, o papa transportou Jesus para a Catedral de Maria. O papa pegou a custódia, subiu os degraus da igreja, e segurou Jesus bem alto, para as massas verem. Esse Jesus foi posto em um altar temporariamente ereto no topo dos degraus. Um cardeal então abriu a janela de vidro da custódia, removeu a bolacha consagrada (Jesus) e diligentemente o colocou no interior da igreja, onde pôs Jesus dentro de um tabernáculo. Essa experiência deu-me um soluçante lembrete de que isso é uma terrível apostasia.” (Faith Undone, p. 126).

Madre Teresa exemplifica isso. Ela declarou claramente que seu Cristo era o biscoito da missa. Considere as seguintes citações de seu discurso para o Worldwide Retreat for Priests (“Retiro Mundial para Sacerdotes”), em outubro de 1984, na cidade do Vaticano:

“Eu me lembro de alguns anos atrás, quando o presidente do Iêmen nos solicitou o envio de algumas de nossas irmãs para seu país. Eu respondi que isso era difícil porque durante muitos anos não tivemos autorização para nenhuma capela no Iêmen realizar uma missa pública, e ninguém tinha autorização para funcionar publicamente nesse país como um padre. Eu expliquei que eu queria enviar irmãs, mas o problema era que, sem um padre, sem Jesus indo com elas, nossas irmãs não poderiam ir a lugar algum. Parece que o presidente do Iêmen teve algum tipo de consulta, e a resposta que veio de volta para nós foi, ‘sim, você pode enviar um padre com as irmãs!’ Eu fiquei tão comovida com o pensamento que SOMENTE QUANDO O PADRE ESTÁ ALI NÓS PODEMOS TER NOSSO ALTAR E NOSSO TABERNÁCULO E NOSSO JESUS. SOMENTE O PADRE PODE PÔR JESUS ALI PARA NÓS.” (Madre Teresa, citada em Be Holy: God's First Call to Priests Today (“Sede Santos: O Primeiro Chamado de Deus para os Sacerdotes de Hoje”), editado por Tom Forrest, C.Ss.R., 1987, p. 109).

“Um dia ela (uma garota trabalhando em Calcutá) veio, pôs seus braços em volta de mim e disse, ‘eu encontrei Jesus.’... ‘E o que exatamente você estava fazendo quando o encontrou?’ Eu perguntei. Ela respondeu que depois de 15 anos tinha finalmente ido à confissão e recebido a Santa Comunhão das mãos de um padre. Sua face estava mudada e ela estava sorrindo. Ela estava uma pessoa diferente porque O PADRE LHE TINHA DADO JESUS [a bolacha, para ela engolir]” (Madre Teresa, Be Holy: God's First Call to Priests Today, p. 74).

É uma grande cegueira espiritual pensar que o Senhor Jesus pode ser adorado legitimamente na forma de uma bolacha da farinha de trigo!

O mais recente convertido a Roma é FRANCIS BECKWITH, primeiro presidente da Evangelical Theological Society. Em maio de 2007 ele ofereceu sua renúncia da organização após converter-se a Roma. Sua jornada para Roma foi despertada pela leitura dos pais da Igreja. Ele disse: “Em janeiro, por sugestão de um querido amigo, eu comecei a ler os primeiros pais da Igreja bem como alguns dos mais sofisticados trabalhos em justificação de autores católicos. Eu fiquei convencido de que os primeiros pais da Igreja eram mais católicos do que protestantes...” ("Evangelical Theological Society President Converts," The Berean Call, May 7, 2007).

Novamente, ele está correto em observar que os primeiros pais da Igreja eram muito parecidos com os católicos, mas isso nada prova. A verdade não é encontrada nos pais da Igreja, mas na própria Bíblia.

Este artigo é um sonoro alerta para os que têm ouvidos para ouvir a verdade. Não precisamos estudar os “pais da Igreja”. [Somente] precisamos ter a certeza de que somos nascidos de novo e que somos a habitação do Espírito Santo, nosso professor,

“E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis.” (1Jo 2:27).

Também precisamos estudar a Bíblia diligentemente e caminhar bem junto de Cristo e ficar tão profundamente enraizados na verdade que não poderemos ser desviados pelas ciladas do diabo e por todo o vento impetuoso de erro que está assoprando em nossos dias.

Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.” (Ef 4:14).