terça-feira, 11 de outubro de 2011

E então, incomoda-nos a pergunta: Que é ser Batista?

Ser Batista é, antes de mais nada, ser crente no Senhor Jesus Cristo -
crente porque converteu-se a Jesus, ao arrepender-se de seus pecados e
crer nEle como único e suficiente Salvador. Nos dias atuais, em que
muita gente procura igrejas para milagres e para "melhorar de vida"
(teologia da prosperidade), há muita gente que está numa igreja, mas
nunca teve uma experiência de conversão e não tem certeza da sua
salvação. Os Batistas, ao longo da história, têm exigido que se integrem
às suas igrejas aquelas pessoas que já se converteram, sendo então
batizadas na base do arrependimento.
Ser Batista é crer que o crente recebe o Espírito Santo
quando crê (João 7.37-39; Atos 2.37-47; Ef.1.13-14), ocasião em que é
selado no Espírito Santo, o que lhe dá a garantia da salvação.
Ef. 1.13-14; 2 Cor. 1.18-22;5.5).

Ser Batista é ter identidade doutrinária. Os Batistas sempre conservaram
suas marcas doutrinárias, eis porque a expressão muito comum entre os
historiadores de: "doutrinas distintivas dos Batistas". Antes de tudo,
esta marca começa pela aceitação da Bíblia como única regra de fé e
prática. Por exemplo: cremos na salvação pela graça somente, sem a ajuda
das obras, porque a Bíblia assim o diz (Ef. 2.8-10). E assim por diante.
E as práticas dos Batistas, desde a sua liturgia ou modelo de culto, até
os aspectos éticos da vida cristã se regulam por ensinos e princípios
bíblicos, principalmente do Novo Testamento. Atualmente, nota-se um
movimento sorrateiro no sentido de descaracterizar a identidade das
denominações. Fala-se muito de "Unidade na diversidade". Isso não
existe. Em termos de religião e de vida espiritual, só existe unidade
com identidade. A Bíblia faz questão da identidade, a começar pelos
nomes dos servos de Deus. Só para citar dois exemplos: Abrão,
significava: "pai exaltado" (Gen. 11.27). Mais tarde seu nome foi mudado
em razão de uma experiência com Deus, para: Abraão, que significava:
"pai de multidão" (Gen. 17.5). O nome: Jacó, significava "suplantador", “enganador”,
porque nasceu agarrado ao calcanhar do irmão. Mais tarde, depois da
famosa experiência no Vau de Jaboque, seu nome foi mudado para "Israel",
que significava "ele luta com Deus". Os crentes primitivos foram
identificados como "Cristãos", por causa do seu Mestre. E nós, os
Batistas, termo inicialmente pejorativo, temos esta identidade porque
sempre lutamos por uma volta ao Novo Testamento, contra as heresias e
desvios doutrinários. Esta é a nossa marca registrada.

A partir da Bíblia como única regra de fé e prática, seguem-se outras
doutrinas, como: A natureza congregacional, local, autônoma e
democrática da Igreja; a separação da Igreja do Estado; a
responsabilidade individual ou da suficiência da pessoa, no sentido de
poder, ela mesma aproximar-se de Deus (sem precisar de sacerdotes); a
liberdade de consciência (e isto influenciou, via Batistas, a
Constituição dos Estados Unidos da América do Norte - Roger Williams); O
batismo por imersão para pessoas já convertidas e, portanto, contra o
chamado batismo infantil, dentre outras.

Aprendendo no Novo Testamento, os Batistas tornaram-se, ao longo da
história, um grupo que pratica a cooperação entre igrejas da mesma fé e
ordem. Daí fez história na área de missões, através de convenções e
juntas missionárias, mas os Batistas nunca entenderam que uma Convenção,
com a qual cooperam voluntariamente, é mais importante do que a Igreja
local. Infelizmente, com o crescimento dos Batistas em algumas partes do
mundo, como nos Estados Unidos e no Brasil, chegamos a um ponto em que
as Convenções tornaram-se um foco de poder político e, como resultado,
muitas igrejas começaram a esperar por decisões e planejamentos e até
definições das Convenções para realizarem seu trabalho. No entanto, não
é esse o espírito Batista. Pelo contrário, o trabalho efetuado por
organizações denominacionais se fortalece, à proporção em que a Igreja
local cresce e realiza o seu trabalho. Quando a Igreja local se
enfraquece, as Convenções e instituições denominacionais também se
enfraquecem. Quando uma convenção criada pela vontade de Igrejas
Batistas começa a ditar as regras para essas igrejas, essa Convenção
está prestes a cair e a perder a sua razão de ser.

Ser Batista, por outro lado, é respeitar o pensamento alheio, tanto de
igrejas da mesma fé e ordem, como de outras igrejas e religiões. O
direito de liberdade de consciência e, portanto, de culto, é princípio
do qual os Batistas nunca abriram mão, tanto para si como para os
outros, uma vez que eles mesmos aprenderam isso pelo seu próprio
sofrimento por perseguições que enfrentaram de outros religiosos. No
entanto, só se unem para cooperação com aqueles que são doutrinariamente
semelhantes. Basta acompanharmos a história de suas "Declarações de Fé”,
que, diga-se de passagem, não têm nada a ver com os chamados "credos”
católicos e de certos grupos protestantes. E quando as doutrinas dos que
estavam juntos não "batiam" com as suas declarações de fé, logo havia
uma separação natural, pela atração dos que pensavam semelhante em
termos doutrinários. Já a própria Palavra de Deus assevera: "Andarão
dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Amós 3.3).

Ser Batista é ser firme e definido nas convicções. Há hoje muita gente
que costuma dizer: "Eu congrego com qualquer grupo". Tais pessoas,
naturalmente, não sabem o que são e nem para onde vão. Paulo, o
apóstolo, dizia: "eu sei em quem tenho crido" (2 Tim. 1.12-14). Batista sempre foi povo de convicções firmes e muitos deles, no passado, foram
presos, perseguidos e até morreram por suas convicções. Quem não conhece
a maravilhosa história de John Bunyan que, por ser Batista, foi preso, ocasião em que escreveu o livro: O Peregrino?

Como resultado da firmeza e definição dos Batistas, para eles não existe ecumenismo. O ecumenismo tem invadido nossos arraiais e feito uma espécie de "lavagem cerebral" em muitos dos nossos líderes. Mas ecumenismo não existe no Novo Testamento. Aquela linda expressão de
Jesus: "Para que todos sejam um como nós", não tem nada a ver com ecumenismo, pois na época não existia nada além do movimento puro, sem heresias, de Jesus. Na verdade, no contexto, Jesus estava se referindo
ao seu grupo de apóstolos, por quem orava no momento. Eis porque os Batistas sempre interpretaram a figura da igreja como um corpo (1 Cor 12.13-31), como referindo-se à igreja local e não a uma "Igreja Universal". Até mesmo do ponto-de-vista lógico e prático, seria impossível pensar num corpo com seus membros em diferentes lugares
geográficos e contextos doutrinários. O corpo aqui é de cada igreja local, pois o Novo Testamento enfatiza a Igreja local.

Ser Batista é crer em Igreja no seu significado neotestámentario. Hoje há uma verdadeira ojeriza ao termo "igreja" por parte de alguns, razão porque estão trocando a palavra "igreja" pela palavra "comunidade". A
palavra "igreja", que realmente foi tomada por empréstimo do mundo secular, jamais quer significar "comunidade", mas "congregação". O sentido vem do Velho Testamento (Septuaginta - Velho Testamento em grego), e a palavra grega é a mesma que está no Novo Testamento:
"eklesía". Nos dias de Jesus havia um sentido de comunidade implantada pelos Essênios. Eles eram, realmente, uma comunidade. Viviam nos
desertos, em grupos isolados, principalmente nas regiões do Mar Morto.
Para alguém pertencer ao grupo teria que passar por um tempo de prova e experiência e, sobretudo, teria que trazer para o grupo tudo o que lhe pertencia, inclusive bens imóveis que, daí para a frente, passavam a
pertencer ao grupo. Todos viviam juntos sob o comando de um líder e havia regras rígidas para o comportamento no grupo. Os cristãos primitivos quiseram imitar essa comunidade de alguma maneira, mas não deu certo (Atos 4.32-37; 5.1-16). No Novo Testamento, portanto, o
sentido de Igreja desenvolveu-se como uma congregação. Mesmo o povo de Israel, quando atravessava o deserto rumo a Canaã, e que vivia de certo modo em comunidade, sob a liderança de Moisés, fazia distinção entre a
comunidade do povo e a "eklesía". Ela só existia quando eram tocadas as
duas trombetas de prata e o povo se ajuntava diante da "tenda da Congregação" (Num. 10.1-10). Igualmente, nas cidades gregas livres, só havia a "eklesía" quando o arauto convocava a comunidade para ajuntar-se
na praça (Atos 19.39). E o povo assim reunido, chamava-se "igreja". Não
existe portanto igreja como comunidade. Igreja é congregação e ser
batista é crer no sistema de Igrejas do Novo Testamento.

Finalmente, temos que admitir que, apesar de seguirem um mesmo parâmetro para as suas doutrinas e práticas, há diferenças regionais e locais em
estilo de reunião e de culto, ética, costumes e administração. Essas
diferenças, desde que não atentem contra o princípio máximo da "Bíblia como única regra de fé e prática", são perfeitamente normais.

O que parece estar acontecendo hoje no grande universo Batista, principalmente do Brasil, é que muitas Igrejas estão adotando doutrinas
e práticas que extrapolam totalmente o princípio da Bíblia como única
regra de fé e prática, pois não resistiriam a um confronto sério com a
Palavra de Deus, o que é lamentável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário